UNESCO alerta para situação alarmante de museus com quebras até 60% de receitas
Um relatório divulgado pela UNESCO confirmou hoje a "situação alarmante" de 104.000 museus de 87 países, que perderam 70% dos visitantes, e quebras até 60% das receitas este ano, recomendando medidas de apoio ao inventário de coleções e investigação.
O documento divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês), chama a atenção para a vulnerabilidade destes espaços culturais que acolhem o património mundial, passado um ano de atividade parcialmente suspensa, no contexto global da pandemia.
Segundo o relatório, em 2020 os museus de todo o mundo estiveram encerrados uma média de 155 dias, e, desde o início de 2021, muitos deles foram forçados a fechar portas novamente, provocando uma quebra de 70% nos visitantes, e entre 40% a 60% das receitas, comparativamente a 2019.
Face a esta situação dramática, muitos museus realizaram campanhas para chamar a atenção do público e angariar fundos, reforçaram protocolos de segurança devido ao encerramento, mas, mesmo assim, verificou-se uma "redução significativa" dos apoios públicos, em muitos casos até 40%, afetando quase metade dos museus nos 87 países que responderam à pesquisa.
"Esta situação alarmante aumentou os encerramentos e as quedas de visitação e receitas, criando um forte impacto negativo no setor como um todo, e tornando ainda mais difícil sustentar os esforços para manter a conservação das coleções, garantir a sua segurança e nutrir relações com o público e as comunidades locais", alerta o relatório, apontando a importância social e económica destes equipamentos, para além da função cultural e educativa.
Para contrariar este cenário que tende a tornar-se mais dramático com a continuidade global da pandemia, os peritos da UNESCO recomendam medidas, nomeadamente a implementação, a larga escala, da digitalização dos inventários das coleções, medidas de apoio à educação, formação e investigação nos museus.
Como agência especializada da área da cultura na Organização das Nações Unidas, a UNESCO diz, no documento, estar comprometida em acompanhar os estados-membros e as instituições museológicas para enfrentar estes desafios, promovendo a cooperação internacional.
"O lugar que reservamos para os museus nas políticas de recuperação da crise pandémica revela muito dos valores sociais que queremos preservar", afirma a diretora-geral da organização, Audrey Azoulay, acrescentando que "no meio da crise não se pode perder a noção do que é fundamental preservar, como o acesso à cultura e a conservação do património histórico em toda a sua diversidade".
Num debate ´online´ promovido pela UNESCO em março, o presidente do Conselho Internacional de Museus (ICOM na sigla em inglês), Alberto Garlandini, apresentou também um diagnóstico do impacto destrutivo da crise pandémica no setor, baseado nos últimos dados recolhidos pela organização não governamental, segundo os quais, a nível global, 6% dos museus poderão encerrar e 30% forçados a reduzir os seus funcionários devido às dificuldades económicas provocadas pela perda de visitantes e de receitas.
"Arriscamo-nos a perder o conhecimento precioso destes museus e dos seus profissionais, o que seria uma catástrofe", alertou o responsável, apontando que, se há museus de alguns países que reabriram, com limitações, muitos continuam encerrados e "o regresso dos visitantes espera-se muito lento".
Na mesma altura, numa conferência internacional, em Lisboa, o presidente do Observatório Português de Atividades Culturais (OPAC), José Soares Neves, indicava que os cerca de 660 museus do país perderam entre 70 e 80% dos visitantes, devido às restrições impostas pela pandemia, uma diminuição que considerou "drástica".
"Os visitantes ficaram reduzidos praticamente só aos nacionais", indicou José Soares Neves, sobre o universo de 660 museus do país, dos quais 25 são tutelados pelo Ministério da Cultura, através da Direção-Geral do Património Cultural.
Antes, em janeiro, o presidente do ICOM-Europa, Luís Raposo, contactado pela agência Lusa, indicou que 75% dos museus europeus tiveram perdas semanais de receitas na ordem dos mil a 30 mil euros, 66% receberam apoio dos governos para fazer face à pandemia, enquanto sete em cada dez diziam esperar cortes nos orçamentos nos próximos anos.
Este novo relatório da UNESCO é uma atualização do relatório global anterior, divulgado em maio de 2020, sobre a situação dos museus em todo o mundo face à pandemia covid-19, levado a cabo no âmbito da missão da organização em preservar, promover e apoiar o setor.