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Bolsonaro reclama de senador que gravou e divulgou conversa consigo sobre pandemia

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O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, reclamou hoje de um senador com quem conversou por telefone sobre uma investigação relacionada com a pandemia de covid-19, que o legislador registou e divulgou nas redes sociais no domingo.

"Fui gravado em uma conversa telefónica. A que ponto chegamos no Brasil? Gravado!", protestou Bolsonaro, perante um grupo de apoiantes junto à sua residência oficial em Brasília.

O autor da gravação e que divulgou o áudio foi o senador Jorge Kajuru, da base oficial do Governo, que nessa conversa tentou justificar o seu apoio à abertura de uma investigação parlamentar sobre a gestão do Governo brasileiro na pandemia de covid-19.

No áudio, Bolsonaro protesta contra o facto de a investigação se limitar apenas à atuação do Governo federal e não incluir governadores e prefeitos, a quem o chefe de Estado brasileiro acusa de terem desviado recursos recebidos para o combate à pandemia.

No telefonema gravado, Bolsonaro pediu ainda ao senador Kajuru que haja para que se amplie o quadro da investigação, pois "do contrário só serão afetados seu Governo e alguns de seus colaboradores", entre os quais cita o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde e já investigado pela justiça brasileira.

Bolsonaro também reclamou que o Senado não dá seguimento aos diversos pedidos de destituição que recebeu contra membros do Supremo Tribunal Federal (STF).

O senador Kajuru garantiu que avisou Bolsonaro que gravaria e divulgaria a conversa que tiveram ao telefone nas redes sociais.

"Eu o avisei e ele respondeu está tudo bem, tudo o que eu falei está dito", afirmou hoje o senador.

Segundo a oposição, a conversa revela que Bolsonaro tenta interferir tanto no Senado quanto no STF, ato que foi descrito como "escandaloso" pela deputada e presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann.

Na opinião da parlamentar da oposição, a gravação é uma manobra para "acusar os governadores, prefeitos, o STF e salvar a pele de Bolsonaro e de seu Governo", que segundo a oposição é "responsável" pela falta de controlo da pandemia.

Durante a polémica, o senador Kajuru divulgou hoje um novo trecho da conversa com Bolsonaro em que o Presidente brasileiro ameaça outro parlamentar, o senador Randolfe Rodrigues, autor do pedido de abertura da Comissão Parlamentar de Investigação (CPI).

"Se você [Kajuru] não participa [da CPI], vem a canalhada lá do [senador de oposição] Randolfe Rodrigues para participar e vai começar a encher o saco. Daí, vou ter que sair na porrada com um bosta desses", afirmou Bolsonaro, numa gravação divulgada por Kajuru na Rádio Bandeirantes.

Na quinta-feira, o juiz Luís Roberto Barroso do STF ordenou em decisão liminar que o Senado abrisse uma CPI para esclarecer supostas omissões do Governo brasileiro na gestão da pandemia.

A investigação não agradou a Bolsonaro, que classificou a decisão como um ato político, de "ativismo judiciário", e afirmou que foi tomada "monocraticamente".

Barroso aceitou um recurso apresentado por um grupo de senadores, que, desde o início de fevereiro, pedia a criação de uma CPI para investigar as ações do executivo na gestão da crise de saúde provocada pela covid-19.

Desde então, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, aliado do Bolsonaro, referiu a possibilidade de instalar a comissão, mas sempre considerou que não era o momento certo.

As CPI no Brasil têm competência para convocar as mais diversas autoridades para se manifestarem, inclusive ministros ou militares, e até mesmo para quebrar o sigilo telefónico e bancário dos investigados.

Após a decisão, o Governo brasileiro reuniu aliados que entregaram um pedido para ampliar o âmbito da investigação, incluindo atos de governadores e prefeitos.

O Brasil enfrenta atualmente a pior fase da pandemia, com sucessivos recordes de infeções e óbitos associados à covid-19, que já deixa mais de 353.137 mortes no país e quase 13,5 milhões de infetados em pouco mais de um ano.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.937.355 mortos no mundo, resultantes de mais de 135,9 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.