Emissária da ONU alerta para "risco sem precedentes" de guerra civil em Myanmar
A emissária das Nações Unidas para Myanmar disse hoje que o país corre um "risco sem precedentes" de guerra civil, apelando ao Conselho de Segurança para utilizar "todos os meios" para evitar uma "catástrofe" e um "banho de sangue".
Num discurso citado pela agência France-Presse (AFP), Christine Schraner Burgener, enviada especial do secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a situação atual no país é grave. "Arrisca-se a passar debaixo dos nossos olhos, e um fracasso ao evitar uma nova escalada das atrocidades custará ao mundo bem mais a longo prazo", afirmou.
"A crueldade dos militares é demasiado grave e várias organizações armadas étnicas manifestam claramente a sua oposição, reforçando o risco de guerra civil a um nível sem precedentes", estimou a responsável.
Christine Schraner Burgener considerou que "um banho de sangue está iminente".
"Apelo ao Conselho que considere todos os meios à sua disposição para tomar medidas coletivas e fazer o que é preciso, o que merece o povo birmanês, a fim de evitar uma catástrofe multidimensional no coração da Ásia", referiu.
As palavras da emissária, que pediu "uma resposta internacional firme, unitária e resoluta", foram proferidas numa reunião de urgência sobre Myanmar, requerida pelo Reino Unido.
Os membros do Conselho de Segurança da ONU permanecem divididos, com os Estados Unidos e o Reino Unido a pedirem novas sanções, mas a Rússia e a China recusaram condenar oficialmente o golpe de Estado.
No dia 10 de março, o Conselho de Segurança condenou pela primeira vez "firmemente a violência contra os manifestantes pacíficos, incluindo mulheres, jovens e crianças", numa declaração iniciada por Londres que atacou sem precedentes a junta militar de Myanmar, que derrubou o regime democraticamente eleito da líder birmanesa Aung San Suu Kyi.
As divergências existentes têm permitido à junta militar birmanesa continuar a repressão, com a Associação de Assistência a Presos Políticos (AAPP) em Myanmar, a dar conta de que mais oito pessoas foram mortas terça-feira a tiro pelas forças de segurança.
Desde a independência de Myanmar em 1948, vários grupos étnicos têm estado em conflito com o Governo central por mais autonomia, acesso aos muitos recursos naturais do país ou parte do lucrativo comércio de drogas.