“Tablets no Ensino”: Um projeto a analisar e repensar
O “Projeto tablets no Ensino” foi implementado no início do ano letivo de 2019/2020. Apesar de ser designado uma “experiência do uso de manuais digitais escolares e tablets”, abrangeu no imediato quase todos os alunos da RAM que iniciavam o 5º ano, perspetivando estender-se até ao 9.º ano de escolaridade.
Muito sumariamente, o projeto consiste na substituição dos manuais escolares por um tablet, no qual são disponibilizados em suporte digital. Esse tablet é emprestado aos alunos, no início de cada ano letivo, ficando à responsabilidade dos respetivos encarregados de educação.
Proceda-se a uma breve análise dessa dita experiência. A principal vantagem constatada foi a redução do peso das mochilas. Porém, ao esquivarem-se os malefícios decorrentes de os alunos transportarem as mochilas com carga excessiva, advieram outros problemas posturais, também eles graves, que irão pagar-se caro, mais tarde, em termos físicos e mesmo mentais.
Principais dificuldades sentidas por professores e encarregados de educação: comprometimento de aspetos muito importantes da leitura, como sejam a visão do livro e a perceção da sua estrutura/organização; o layout das páginas e as opções gráficas; controlo da utilização dos tablets; acompanhamento no estudo e na preparação para os momentos de avaliação.
Estimativas do tempo passado diariamente em frente aos reduzidos ecrãs? Ninguém se atreve a adiantar, mas obvia-se que é demasiado.
No atual cenário do Ensino à Distância, o uso das tecnologias tem sido, sem dúvida, crucial. Porém, note-se que os alunos do 2º ciclo neste regime de ensino estão duplamente confinados: confinados às suas casas e confinados aos ecrãs dos tablets, onde se desvirtuam tanto os professores como os manuais.
Enfim, quando se fala da utilização de tablets e de outros dispositivos móveis no processo de ensino e aprendizagem, impõe-se a necessidade da busca de equilíbrios. Um projeto que é generalizado a todas as áreas curriculares e que abrange os alunos ao longo de cinco anos do Ensino Básico não é nem tão pouco uma experimentação nem sinónimo de equilíbrio.
Porque não se canaliza a verba reservada ao “Projeto tablets no Ensino” para a gratuitidade dos manuais escolares, que já é assegurada desde o 1.º ciclo até ao final do Ensino Secundário em todo o território nacional, com exceção da Região Autónoma da Madeira?
Maria Morais