Marcelo promete ser "o mesmo" embora admita segundo mandato mais difícil
Conheça, em síntese, os pontos altos da cerimónia de tomada de posse do Presidente da República
Marcelo Rebelo de Sousa tomou hoje posse para mais cinco anos como Presidente da República perante o parlamento, prometendo ser "o mesmo", embora admitindo que "os segundos mandatos são sempre mais difíceis".
"Sou o mesmo de há cinco anos, sou o mesmo de ontem, nos mesmos exatos termos eleito e reeleito para ser Presidente de todos vós, com independência, espírito de compromisso e estabilidade, proximidade, afeto, preferência pelos excluídos, honestidade, convergência no essencial, alternativa entre duas áreas fortes, sustentáveis e credíveis, rejeição de messianismos presidenciais, no exercício de poder ou na antecipada nostalgia do termo desse exercício, no respeito pela diferença e pelo pluralismo, na construção da justiça social, no orgulho de ser Portugal, de ser português", afirmou o chefe de Estado, no final do seu discurso de cerca de vinte minutos e que foi aplaudido por PS, PSD e CDS-PP.
O chefe de Estado deixou a garantia de que "foi assim, assim será, com qualquer maioria parlamentar, com qualquer Governo, antes e depois das eleições autárquicas, antes e depois das eleições parlamentares, antes e depois das eleições europeias, antes e depois dos 50 anos do 25 de Abril em 2024", num mandato com final previsto apenas para 2026.
Perante uma plateia reduzida de deputados (50) e de convidados (pouco mais de vinte), devido à pandemia de covid-19, Marcelo Rebelo de Sousa assumiu cinco missões para o seu segundo mandato como Presidente da República -- melhor democracia, combate à covid-19, recuperação económica, coesão social e protagonismo internacional do país -- e rejeitou "messianismos presidenciais".
"Queremos uma democracia que seja ética republicana na limitação dos mandatos, convergência no regime e alternativa clara na governação, estabilidade sem pântano, justiça com segurança, renovação que evite rutura, antecipação que impeça decadência, proximidade que impossibilite deslumbramento, arrogância, abuso do poder", afirmou.
Talvez para mostrar que "é o mesmo", Marcelo Rebelo de Sousa voltou hoje a chegar a pé ao parlamento, repetindo aquela que foi a surpresa de há cinco anos.
"É espantoso, quando se chega ao fim do mandato parece que foi muito mais curto do aquilo que foi. Quando se vai começar um mandato, parece que foi muito mais longo do que o que provavelmente será. Mas os segundos mandatos são sempre mais difíceis que os primeiros", anteviu, em conversa com os jornalistas que acompanharam este percurso.
Nas reações às mensagens presidenciais, o primeiro-ministro, António Costa, classificou o discurso de Marcelo como reconfortante em termos de confiança e de esperança e com "uma agenda muito clara" de cooperação institucional e estratégica.
A mesma leitura foi feita pelo PS, que considerou o Presidente da República "muito claro" sobre cooperação institucional entre os diferentes poderes, enquanto o PSD assegurou já estar a construir a alternativa forte que tem sido pedida pelo chefe de Estado.
O tom dos partidos foi maioritariamente elogioso - embora PCP e PEV tenham apontado omissões a Marcelo -, tendo Chega e IL sido os mais críticos das palavras do Presidente.
Foram, aliás, estes dois partidos os únicos que atacaram a outra intervenção desta manhã, a do presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.
A segunda figura do Estado sustentou que a reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa como chefe de Estado foi a "demonstração do repúdio do extremismo", alertando contra o ressurgimento de movimentos e de ideais de extrema direita, passagem criticada pelo líder do Chega, André Ventura.
Ferro Rodrigues destacou, por outro lado, que os cinco anos do primeiro mandato presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa foram "repletos de momentos marcantes", com os cidadãos a recuperaram o orgulho numa democracia "sem mordaças", num aparente recado ao ex-Presidente da República Cavaco Silva, que no passado sábado disse que Portugal vive numa situação de "democracia amordaçada".
A este respeito, o presidente da IL, João Cotrim Figueiredo, fez questão de salientar que o seu "orgulho em ser português" não começou nem com o mandato de Marcelo em Belém nem com o de António Costa em São Bento.
À cerimónia, que teve menos pompa e foi mais curta do que há cinco anos, assistiram alguns dos candidatos presidenciais (Ana Gomes, Tiago Mayan e Vitorino Silva, além do deputado André Ventura) e dois dos três ex-Presidentes da República ainda vivos (Jorge Sampaio faltou por razões de saúde), mas apenas Ramalho Eanes cumprimentou o reeleito inquilino de Belém, com Cavaco Silva a deixar o parlamento logo depois do discurso de Marcelo Rebelo de Sousa.
Nas eleições presidenciais de 24 de janeiro, Marcelo Rebelo de Sousa foi reeleito com votação reforçada, correspondente a 60,67% dos votos expressos.