Cavaco defende que PSD tem de atrair eleitores que votaram PS
O ex-Presidente da República Cavaco Silva defendeu hoje que, para voltar ao poder, o PSD terá de conseguir atrair "eleitores que votaram PS" no passado, aconselhando os dirigentes sociais-democratas a evitarem falar sobre "outros partidos", numa alusão ao Chega.
Numa participação, por videoconferência, na Academia de Formação Política das Mulheres Sociais-Democratas, Cavaco Silva deixou fortes críticas ao atual Governo, mas também fez questão de falar para o partido que liderou, considerando que este tipo de iniciativas tem de debater "a estratégia mais adequada" para o PSD voltar ao Governo.
"Em minha opinião, o ponto central duma estratégia que possa ter sucesso é a identificação do adversário político do PSD. Parece-me claro que o adversário político do PSD é o atual Governo e o partido de que ele emerge, havendo que não dispensar esforços em relação a qualquer outro partido", disse.
Para o antigo primeiro-ministro, a tarefa do PSD passa por "denunciar erros e omissões, violações das regras do Estado de Direito, falhas de respeito pela independência do poder judicial e tentativas de amordaçar a democracia por parte do poder socialista".
"Trata-se de defender políticas alternativas adequadas para resolver os problemas do país, mas nunca recorrendo a insultos, respeitando sempre as regras da boa educação", afirmou, salientando que a luta política faz-se "entre adversários e não entre inimigos".
Para Cavaco Silva, o objetivo principal da social-democracia tem de ser "atrair eleitores que nas últimas eleições votaram no PS".
"Sem isso, o PSD não conseguirá liderar uma mudança de governo", avisou.
Para tal, o antigo primeiro-ministro chega mesmo a aconselhar os dirigentes sociais-democratas a evitar "múltiplas perguntas sobre outros partidos políticos", considerando que têm por objetivo "impedir que eleitores que no passado votaram PS se sintam inclinados a voltar à área social-democrata", numa referência implícita a questões frequentes sobre eventuais alianças com o partido Chega.
"É fundamental não cair nessa armadilha, seria importante que esta Academia desse formação às mulheres sobre como não responder a uma única pergunta que lhe seja dirigida sobre os outros partidos, quaisquer que eles sejam", aconselhou.
A iniciativa das Mulheres Sociais-Democratas (MSD), uma estrutura autónoma do PSD, será encerrada ao final da tarde pelo presidente do partido, Rui Rio.
Na sua intervenção, o antigo primeiro-ministro sublinhou que foi pela "via reformista e gradualista" que o PSD conseguiu gerar maiorias absolutas e, alem do fundador Francisco Sá Carneiro, apenas nomeou outro ex-líder do partido, Pedro Passos Coelho, destacando a sua tarefa "de resgaste da bancarrota a que o governo socialista conduziu o país".
"A crise de identidade que afeta tantos partidos não se coloca no PSD, que não precisa de ser nem de direita nem de esquerda", defendeu, considerando que essa dicotomia está ultrapassada na qualificação de governos da União Europeia.
"Há que afirmar a social-democracia como a melhor alternativa para Portugal e ir buscar as melhores e os melhores para servir Portugal com competência, verdade e seriedade", disse.
Nos poucos minutos que dedicou exclusivamente ao tema das mulheres, Cavaco Silva disse que têm contribuído para fazer do PSD "um partido interclassista, vivo e exigente, com clareza de princípios e de posições".
Cavaco Silva recordou a intervenção que fez no primeiro encontro das MSD, em 1987, e considerou que se registou algum avanço na participação feminina durante os seus governos (em que teve 12 mulheres, três delas ministras".
"Certamente, aquém do desejável", admitiu, reiterando ser importante "reforçar a voz feminina na política".