Madeira

A Saúde tutela o Turismo?

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Boa noite!

O desencontro de números relativos à Covid-19 na Região já dura há quase um ano e já foi explicado vezes sem conta, tanto pela DGS, como pela Secretaria Regional de Saúde e Protecção Civil.

Não há dia em que o relatório da situação epidemiológica em Portugal coincida com a contagem diária feita na Região e por isso, não é à conta de tamanha disparidade, assente em dados objectivos - como anomalias nos sistemas, critérios de atribuição segundo a residência fiscal ou falhas humanas -, que vem algum mal repentino ao nosso mundo.

Daí ser surpreendente que, numa só semana, as autoridades de Saúde da Região se preocupem, por duas vezes, com uma diferença que já vem de longe, reacção que coincide com notícias menos cómodas para quem gere a pandemia localmente, mas que estão assentes em números regionais, logo, insuspeitos.

Hoje, no MAIS DIÁRIO, revelamos que Madeira estava com uma taxa de incidência da Covid-19 superior à do País. Nos últimos 14 dias, os 296 casos por 100 mil habitantes na Região contrastam com os 174 em termos nacionais.

Uma hora depois, quem tutela a Saúde na Região emite uma nota com o intuito de desviar atenções. Mas se na terça-feira apelou à valorização dos “números fidedignos” da Madeira, hoje atacou os dados “geradores de desinformação junto da população”. E ao fazê-lo cometeu uma imprudência, pois alegou que os mesmos “são prejudiciais para a dinâmica do sector do turismo na Região”.

Leu bem. A Secretaria que é da Saúde afinal tem outros interesses.

É caso para perguntar se a Secretaria da Saúde tem gerido a pandemia em função do Turismo e da imagem externa da Região ou daqueles que cá vivem e sofrem? Se tem agora nova funções e já tutela o que não é da sua competência? E porque razão está agora preocupada com dinâmicas que dependem mais dos mercados de origem do que deste destino onde repetidamente se diz que “está tudo controlado”?

Quanto ao Turismo, refere-se a quê? Ao que um dia voltará ou àquele, quase insignificante, que cá está e que faz com que quase metade dos hotéis chegue ao final deste mês sem dinheiro? Ao que gostava de ter ou o que levou o gestor hoteleiro, André Barreto, a escrever no domingo passado no DIÁRIO sobre “os novos pedintes”?

Desse retrato da vida real recupero duas certezas: “80% da hotelaria madeirense está fechada e alguma dela não mais voltará a abrir portas”; “a que permanece aberta tem ocupações médias a rondar os 10% com a eventual excepção, pela positiva, de algumas unidades fora do Funchal”. Será esta crueldade que a todos afecta motivada pelos números da DGS?