A nossa população
Os políticos costumam dizer, “Estamos a defender os interesses da nossa população”. A população não é propriedade de ninguém. “Ninguém é de ninguém” como diz a canção de forma muito apropriada! Assim fala o autarca de S. Vicente a propósito da estrada das Ginjas. Mas S. Vicente, Santana e Porto Moniz já quase não têm população. E cada vez existirá menos. E não será com novas estradas de betão que atrairão população ou a atual vai aumentar. Em Santana fez-se uma via rápida, e bem, mas a alavancagem do investimento privado, principal função das obras públicas, foi quase nula. Surgiu apenas o “Super Sá” que acabou por matar dezenas de pequenos negócios que permitiam a sobrevivência de algumas famílias. Há 40 anos (década de 80), como diz o autarca de S. Vicente, já a população não queria saber da estrada das Ginjas para nada porque o gaz tinha substituído a lenha. Se afirmasse há 60/70 anos estaria correto. Lembro-me de na década de 50 a estrada principal de Santana ser percorrida diariamente por carros ou corças puxadas por pessoas ou animais carregados com lenha ou feiteira. Depois o interesse pela serra desapareceu repentinamente devido ao aparecimento do gaz. Dizer que a população atual exige a betonização da estrada das Ginjas é uma falácia. Mas qual população? Os idosos ou jovens? Nem uns nem outros estão interessados nisso. A política do alcatrão não transformou a Madeira numa região desenvolvida nem podia porque desenvolver tem a ver com as propriedades mentais das pessoas (formação/cultura/saúde) e não físicas (estradas/portos). Conduziu sim à desertificação da zona norte. O que os três autarcas desta zona deviam fazer era um estudo feito por economistas competentes e independentes sobre como devem atuar de forma concertada para atrair investimento privado por forma a potenciar os recursos que existem. Não é derramando dinheiro para apoiar a natalidade e a juventude nos estudos que conseguirão fixar as novas gerações. Isso é política eleiçoeira. É preciso em simultâneo dinamizar a economia para que essas gerações permaneçam nas suas terras caso contrário estamos formando jovens cujo destino será a saída para outros países tal como está a acontecer agora mesmo. Sem uma economia sustentável as próprias autarquias terão de se fundir pois não terão verbas próprias para se manter. As do Estado, a sua principal fonte de receitas, são dos contribuintes e estes não vão poder suportar eternamente a carga fiscal derivada de autarquias sem população. A Secretaria da Proteção das Florestas e do Ambiente tem a palavra pois está dentro das suas atribuições a defesa deste recurso tão importante para o futuro da humanidade e inclusive para potenciar a nossa atratividade turística. O turista que vem à nossa região quer é apreciar a natureza tal como Deus a criou e não a alterada pela ação do homem.
Manuel João Batista Rosa