Competências digitais devem ser introduzidas logo no 1.º ciclo
As competências digitais deveriam ser introduzidas logo ao nível do 1.º ciclo de ensino, defende a investigadora da Universidade do Porto Sofia Marques Silva, salientando que a inclusão digital não pode ser encarada como um luxo.
"[A introdução às tecnologias da informação] deve ser mais cedo, precisamente porque precisamos de preparar crianças e jovens para as profissões de futuro que vão ter muito esta dimensão tecnológica", afirma à agência Lusa a docente e investigadora do Centro de Investigação e Intervenção Educativas da Universidade do Porto.
Para Sofia Marques Silva, essa intervenção deveria também ser feita não de forma isolada, mas ligada às humanidades e às ciências sociais, por forma a garantir que os jovens possam "fazer leituras conscientes" da utilização dos computadores e da internet.
Nas escolas, "muitas vezes, tem-se resistido um bocadinho a esta entrada do mundo digital e com consequências na maneira como vamos educando os jovens para esta realidade", frisa a também antiga coordenadora do eixo da inclusão entre 2017 e 2019 do INCoDe.2030 -- Iniciativa Nacional Competências Digitais.
Num momento de digitalização da sociedade e da economia, a especialista alerta que a inclusão digital não pode ser encarada como um luxo.
"Aceder ao digital não é um luxo, é o mínimo que temos que fazer. Não pode ser só uma 'smart city', mas um país, na sua totalidade, na sua diversidade, que também é inteligente, inteligente porque é capaz de incluir nas suas políticas preocupações com as desigualdades que sabemos que existem e que a pandemia veio acentuar", conclui.
Sofia Marques Silva salienta a importância de se resolverem os entraves socioeconómicos à inclusão digital de todos os jovens, encarando-se, por exemplo, os computadores como bens essenciais.
"É fundamental garantir-se que as camadas mais jovens com mais dificuldades económicas tenham acesso a essas ferramentas. [..] Isto tem um impacto na forma como participamos na vida social, na vida política, na vida cívica. Quando hoje muitas das formas de participação são no mundo digital, ficarem para trás é também ficarem arredados de um diálogo social", vinca.
Para além do trabalho com crianças e jovens, Sofia Marques Silva salienta a necessidade de resolver obstáculos estruturais, como é o caso da falta de cobertura de internet em algumas zonas do país, mas também o trabalho junto de populações com baixos níveis de literacia digital.
A investigadora nota que a maioria dos esforços de inclusão digital têm sido feitos de forma pontual e de âmbito local, sendo necessário uma intervenção com uma dimensão nacional e contínua.
"Não podem ser coisas de cinco minutos ou de um dia ou uma tarde. É necessário alguma coisa pensada, com envolvimento de equipas multidisciplinares", constata, alertando que há custos para o Estado por ter "pessoas excluídas do mundo digital".
A transição digital foi definida como uma das linhas de ação da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia (UE), que se propõe dar prioridade às iniciativas que contribuam para acelerar esta transição enquanto motor da recuperação económica e promover a liderança europeia na inovação e economia digitais.
O programa da presidência aponta nomeadamente o desenvolvimento de competências digitais com vista à adaptação dos trabalhadores aos novos processos produtivos, a transformação digital das empresas e das plataformas digitais, a promoção da saúde e prevenção da doença e a educação e formação ao longo da vida.