Artigos

Vira o disco

Faz agora precisamente um ano que toda a nossa vida mudou. Sendo que foi algo de completamente inesperado e que não pudemos evitar, pergunto se fez-se tudo o que poderia ter sido feito e se a Região soube lidar da melhor forma com os impactos resultantes da pandemia?

Passado um ano, o que ouvimos por parte de Miguel Albuquerque e do Governo Regional, é que está tudo controlado e que a economia está a funcionar, com anúncios diários de muitos milhões de euros.

A conclusão a que chego é que se há coisa que a covid-19 não deu cabo, foi da ilusão e da demagogia. Como pode estar a economia a funcionar se 56,1% dos estabelecimentos de alojamento turístico estão fechados? Como é que se diz que são dados milhões em apoios, quando é o próprio representante da Madeira na Associação da Hotelaria de Portugal, que afirma que “não se pode falar em milhões para depois, serem, afinal uns tostões”.

Das duas uma, ou estamos perante o milagre da multiplicação de milhões que se evaporam, ou na roda da sorte são muitos os que não veem a cor desse dinheiro.

A comprovar que a resposta desenhada pelo Governo Regional para fazer face à crise económica não está a funcionar, temos estes números: 20 349 pessoas desempregadas, enquanto nos Açores são 7 032; no 4.º trimestre de 2020 fomos a região com a mais alta taxa de desemprego, de 10,7%; das pessoas que se encontram em situação de desemprego, 67% não recebe subsídio; 1 em cada 3 madeirenses está em risco de pobreza, uma taxa de 32,9%, enquanto a média nacional é de 19,8%; 10 800 jovens estão sem trabalhar e sem estudar; a Madeira teve uma queda brutal do seu PIB, o triplo do que aconteceu a nacional, perdendo 21% da sua riqueza.

Preferia nunca ter escrito estes números, nem fazer as críticas que faço ao Governo Regional, e apesar de saber que há danos impossíveis de conter, não me conformo com o sofrimento de tanta gente, não me conformo ver tantas empresas viáveis fecharem as portas.

Não acredito em inevitabilidades e considero que poderia ter-se feito mais e melhor. A forma simplificadora e fácil de Miguel Albuquerque em lidar com as dificuldades económicas e sociais, disfarçando-as em vez de as enfrentar, não ajuda a ultrapassar esta crise que, diga-se, ainda não atingiu o seu auge. Por essa razão torna-se, mais do que nunca, necessário prever e agir, em vez de andar-se atrás do prejuízo. E fazer diferente daquilo que se fez.

Os problemas que estão à vista de todos não são de agora, parecem ressurgir mas nunca foram resolvidos, porque nunca houve a força política para o fazer, e como disse o americano Warren Buffett, “quando a maré baixa é que se vê quem estava a nadar sem calções.”

Temos agora uma oportunidade de, olhando para esta crise, encontrar um outro caminho. É nesse contexto que o PS Madeira apresentou prioridades e medidas que deveriam ser vertidas no Plano de Recuperação e Resiliência para a Região Autónoma da Madeira, considerando que a proposta do Governo Regional estava praticamente toda centrada na administração pública, apresentando lacunas evidentes.

Focalizamos as nossas propostas para o apoio ao tecido empresarial, na sua recapitalização e no apoio a projetos que possam potenciar novas áreas de inovação, como a economia do mar, no financiamento às autarquias para projectos de desenvolvimento local, no sector primário, na agricultura, pescas e pecuária, e em medidas que possam verter investimento nos concelhos do norte e no Porto Santo, de modo a inverter o actual rumo de despovoamento e envelhecimento populacional. Também as áreas da Educação e Cultura mereceram especial atenção.

Estamos perante duas visões muito distintas do que se pretende para o futuro da Madeira. A apresentada pelo Governo Regional, afunila o investimento na administração pública e em projectos das instituições públicas, revelando pouca vontade de aproveitar estas centenas de milhões de euros extraordinários, para iniciarmos um novo ciclo de diversificação da economia e criação de emprego.

Foi mais do mesmo, e se para os problemas apresentarmos sempre as mesmas soluções, teremos sempre os maus resultados que se conhecem. Consideramos que a nossa perspectiva representa uma estratégia de futuro, de apoio à inovação e capacitação empresarial, de apoio à produção regional com maior valor acrescentado, e de uma estratégia de desenvolvimento territorial que não deixa nenhum concelho para trás. Não podemos continuar no vira o disco… e toca o mesmo. Precisamos de outra música.