Guterres condena violência "absolutamente inaceitável" após fim de semana sangrento
O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou hoje a violência "absolutamente inaceitável" registada em Myanmar (antiga Birmânia) no último fim de semana, o mais sangrento desde o golpe militar ocorrido no início de fevereiro.
"É absolutamente inaceitável ver violência deste nível contra pessoas, tantas pessoas mortas, e uma recusa tão obstinada em aceitar a necessidade de libertar todos os presos políticos e de colocar o país novamente no caminho de uma transição democrática séria", respondeu o representante durante uma conferência de imprensa quando questionado sobre a repressão policial e militar dos protestos pró-democracia em Myanmar no último fim de semana, que provocou mais de uma centena de mortos.
Classificando ainda como "absolutamente terrível" a violência verificada no fim de semana, Guterres aproveitou a ocasião para pedir "mais unidade" e "mais empenho" por parte da comunidade internacional perante a situação vivida em Myanmar.
"Precisamos de mais unidade (no seio) da comunidade internacional, mais empenho (...) para exercer pressão no sentido de inverter a situação", apelou o secretário-geral da ONU, afirmando estar "muito preocupado" com a escalada da violência no território birmanês.
"O antigo sistema não era o ideal, mas não há comparação com a situação atual", disse.
A ONU estima que pelo menos 107 pessoas morreram, incluindo sete crianças, no último sábado durante manifestações pró-democracia que coincidiram com o tradicional "Dia das Forças Armadas", celebrado tradicionalmente como uma demonstração de força por parte dos militares e que culminou, como normal, numa grande parada em Naypyidaw, a capital administrativa do país.
A organização liderada por Guterres admite que o número de vítimas mortais possa vir a aumentar.
O balanço dos incidentes divulgado pelos 'media' locais aponta, por sua vez, para 114 mortos.
As declarações de Guterres surgem no mesmo dia em que foi divulgado que o Reino Unido pediu uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU (o órgão máximo das Nações Unidas devido à sua capacidade de fazer aprovar resoluções com caráter vinculativo) sobre Myanmar para a próxima quarta-feira.
Os 15 membros do Conselho de Segurança vão iniciar a sessão, que vai decorrer à porta fechada, com um 'briefing' sobre a situação naquele país pela enviada da ONU, Christine Schraner Burgener, segundo indicaram fontes diplomáticas, citadas pelas agências internacionais.
Em 01 de fevereiro, os generais birmaneses tomaram o poder alegando fraude eleitoral nas legislativas do passado mês de novembro e contestando a vitória da líder da Liga Nacional para a Democracia (LND), Aung San Suu Kyi.
Desde o golpe de Estado militar repetem-se nas ruas birmanesas as manifestações de protesto, ações que têm sido marcadas pela violência policial e do exército.
A repressão policial e militar em Myanmar já fez mais de 459 mortos civis e cerca de três mil pessoas já foram detidas desde o início de fevereiro, de acordo com a organização não-governamental local Associação de Assistência a Presos Políticos (AAPP).
A situação vivida em Myanmar tem suscitado a condenação da comunidade internacional e desencadeado sanções visando a junta militar birmanesa.
Os Estados Unidos da América (EUA), o Reino Unido (antiga potência colonial) e a União Europeia (UE) decretaram sanções visando altas patentes das forças armadas birmanesas.
Hoje, e após os acontecimentos do último fim de semana, a administração norte-americana liderada pelo Presidente Joe Biden anunciou novas sanções visando Myanmar, com a suspensão imediata de um acordo comercial (datado de 2013) até ao regresso de um governo "democraticamente eleito" naquele país.