Avé Caeser
1. Disco: Os Kings of Leon estão de volta com “When You See Yourself”, um trabalho que mantém as marcas de identidade de sempre, mas mais seguras e, como tal, com muito mais maturidade. A introspecção contemplativa é uma dessas marcas tão bem detectável em “Stormy Weather” e em “Fairytale”. Este regresso, ao fim de quase cinco anos sem nada editar, saúda-se. Já tinha saudades.
2. Livro: Iniciei-me em Elena Ferrante. Sim, sei que vou tarde, mas mais vale assim do que nunca. Comecei com o primeiro da tetralogia da chamada “série napolitana”, e estou a desejar saltar para o segundo. “A Amiga Genial” conta-nos a fantástica história da grande ligação entre Elena e Lola. Uma meditação sobre os valores da amizade, em volta de uma história que parte de um bairro para uma cidade e, desta, para um país. Que venha “História do Novo Nome”.
3. Em ano de Eleições Autárquicas, é importante que comecemos a pensar no que queremos para os nossos concelhos. A começar pela sua definição que terá, entre outras coisas, de ter que ver com saúde, qualidade de vida, bem-estar e sustentabilidade.
Gostamos muito de exemplos, de bons exemplos, logo, com base em modelos atuais e históricos, é urgente procurarmos a inspiração, a informação e uma perspectiva integrada que desafie todos os que queiram pensar o concelho e os seus tomadores de decisões, pois isto afecta o ambiente urbano no seu todo.
Numa perspectiva científica, devemos procurar as inter-relações entre questões como o sedentarismo - que leva a estilos de vida pouco saudáveis — a desigualdade, a doença mental, as mudanças climáticas e a qualidade ambiental. Todas as implicações que isto tem no âmbito dos transportes, da habitação, da economia, do tecido e da interacção social, da energia, etc. Com a colaboração de todos os “homens bons” dos conselhos, numa perspectiva de diálogo constante, pois terá de ser sempre muito mais o que nos une do que o que nos separa. Só assim será possível estruturar políticas que devolvam os concelhos aos seus munícipes.
Procurar estratégias criativas, formas e desenhos de vizinhança (porque concelho é vizinhança) e interacções que possam “casar” o ideal com o real. Todo o planeamento político tem de ser abordado de frente, levando a conclusões sobre o papel dos planeadores, das comunidades, dos serviços municipais e municipalizados, das interacções com o Governo Regional e das agências e das sociedades de desenvolvimento regionais e nacionais, tendo sempre presente que vivemos numa sociedade democrática e pluralista. Princípios de planeamento saudáveis e apoiados em consensos, podem fornecer uma poderosa motivação lógica para todos os intervenientes: decisores e munícipes.
Quem vive num concelho tem que o sentir como o seu. A relação de pertença tem que ser a sustentação de todo o projecto de desenvolvimento. O concelho é para os seus cidadãos e estes têm que sentir que são o centro mais importante do conjunto.
Planear o concelho como um importante centro turístico, mas não só, visto que acreditamos que o desenvolvimento da região se deve apoiar nesta centenária indústria e diversificar, para áreas como o mar, e a criação de um sistema fiscal próprio, de fiscalidade reduzida. Logo, o concelho tem de se abrir ao mar e ser pensado como um importante polo internacional de negócios, facultando a capacidade de comunicação digital, em todo o seu espaço, de modo gratuito e rápido. Importantíssima também é uma reforma que leve a uma profunda desburocratização e agilização de processos.
Temos de colocar os cidadãos no centro do planeamento. A política, a economia e a disposição espacial das cidades são, normalmente, interdependentes e moldam as oportunidades sociais e o bem-estar dos seus habitantes. O ambiente urbano é um reflexo dos valores dominantes, através dos processos de desenvolvimento e planeamento. O ambiente é uma determinante crítica da equidade, bem como a resiliência de cada um, a saúde e o clima. E o que queremos são concelhos de oportunidades que permitam a alavancagem social apoiada na equidade.
Áreas que considero de enorme importância no pensar a municipalidade têm a ver com população e demografia; território; infra-estruturas; coordenação, planificação e desenvolvimento estratégico; habitação; aprovisionamento e distribuição; emprego; conservação; polos urbanos; saúde; equidade; ambiente e biodiversidade; poluição; renovação urbana; transportes; design urbano; emergência e protecção civil; construção; águas e saneamento; energia; impostos urbanos; trabalhadores urbanos; serviços municipais; investimento; gestão de recursos; desenvolvimento económico; direitos sociais e laborais; cultura; deveres de cidadania; etc.
Tudo tem de ser tido em conta, quando pensamos a cidade como a súmula da relação entre as pessoas e o local onde vivem. Para isso, será sempre preciso desafiar atitudes culturais atrofiantes, miopias económicas e dogmas políticos conflituantes com a necessidade da decisão. A atitude de gestão terá de ser toda ponderada eticamente e validada pelo conjunto da população.
A cidade como centro de democracia e participação, necessitará sempre de clareza de visão, estratégia coerente, qualidade de design, decisão colaborativa e implementação consistente.
4. Por terras continentais multou-se alguém que se encontrava a comer gomas que acabara de comprar numa máquina de “vending”. Um cidadão do meu país foi autuado por estar a adoçar o bico, inofensivamente.
Não satisfeita com isto, a autoridade que nos controla achou por bem autuar outro meliante que comia uma sandes no carro, num local deserto, enquanto fazia uma pausa depois de um dia de trabalho.
O que eu gostava mesmo de saber era de que raio era a sandocha.
5. Desde ontem, vigora a nova hora de verão. Segundo este matutino, “Miguel Albuquerque recusa reajustar o ‘relógio’ das medidas de controlo da pandemia ao ‘horário solar’”. Ou seja, o nosso distinto presidente sabe, de fonte segura, que o “bicho” consegue ver as horas. Ora então: durante os dias da semana levamos com o recolher a partir das 19h e ao fim de semana a partir das 18h. Que no horário antigo eram uma hora mais cedo.
Tudo isto baseado em princípios e conhecimento científico. Essa altíssima figura do saber, que tanto nos honra ter como presidente do GR, decidiu e está decidido.
“Ave Imperator, morituri te salutant”…
6. O que se passa na diferença de tratamento entre os naturais do Porto Santo que viajam e aqueles que lá vão em lazer ou por motivos profissionais é verdadeiramente kafkiano. Tão absurdo que até tenho dificuldade em explicar…
7. Na Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira, discutiu-se a aprovou-se uma proposta do PSD, que teve o CDS a reboque, como não podia deixar de ser, para a criação do cargo de Provedor dos Animais.
Quem quer apostar que o taxinho já tem dono?
De certeza que o ter saído de líder regional do PAN e 15 dias depois entrar no PSD vai ter algo a ver com isto.
8. E, por todo o lado, caem impecáveis tapetes de alcatrão, lembrando-nos que o pez tem um prazo de validade que, por mero acaso, coincide com autárquicos momentos.
9. “Grande parte das dificuldades porque o mundo passa devem-se ao facto de o ignorante estar completamente seguro e o inteligente estar cheio de dúvidas.” Bertrand Russel