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O ano que passou

Passou um ano… Dia 21 de Março de 2020 será uma data que dificilmente esquecerei. Depois de mais de duas décadas de ininterrupta actividade, fomos forçados a fechar o Hotel nesse dia, seguindo as orientações que nos foram dadas pelas autoridades locais.

Na altura, como justificação para a decisão que em momento nenhum foi minha, procurei focar-me na salvaguarda da saúde das pessoas. Da equipa, claro mas também da minha família. E percebi o racional, embora também entenda o argumentário daqueles que acham isto tudo um exagero.

Sinceramente, não pertenço a esse grupo. A vida é o bem mais valioso, que devemos querer preservar e, pelo menos no que me diz respeito, se puder aproveitar mais umas décadas a companhia dos meus familiares mais velhos, mais feliz serei. A vida; não o sistema de saúde, atenção!

Entretanto, passou um ano. E mais uma vez vou pela lógica de ajuntamentos: - não fui dos que achou que isto iria passar rápido e que em 3 meses estaríamos de volta ao normal. Também nunca achei que iria ficar tudo bem nem nunca vi arco-íris nem unicórnios. Aliás, temo que este seja mais um ano perdido e que esta carestia possa ainda prolongar-se por 2022.

O que nunca me passou pela cabeça foi esta total e mais completa irresponsabilidade de se achar que bastava mandar fechar, proibir e condicionar, muitas vezes até a falar grosso, sem assumir as consequências dessas decisões.

Vou desagradar a alguns, mais dados a discussões teóricas sobre este tema. Se, na lógica de um bem supostamente maior, me expropriarem um qualquer terreno para fazerem uma daquelas obras que os nossos governos tanto gostam, altamente rentáveis e necessárias como por exemplo uma rotunda, o que me acontece? Compensam-me pelo facto de me terem tirado um bem, minha propriedade, certo? Onde está a diferença para o que está a suceder com quem está impedido de trabalhar, sendo que um quarto que não vendo hoje nunca mais o vou vender?

Um ano depois, dou por mim a discutir com o meu Banco as condições para mais um empréstimo, que renova por mais um ano e meio a necessidade de manutenção de todos os postos de trabalho. Pior, tenho para o efeito de sujeitar-me a avaliações baseadas em taxas de ocupação e preços médios de 2020. Teria piada, se não fosse tão ridículo, não acham? É o rating e o risco, dizem-me…

Compensações, indemnizações ou, se quiserem, sequer apoios a fundo perdido; nada. Zero! Bola! Nicles, batatóides! E convido os anunciantes de distribuição de dinheiro a rodos para todos a desmentirem esta triste realidade, mesmo que corrigida em baixa (de 190, passaram para 164 milhões…). Para Estado Social não está mal, pois não?

Não fosse o facto de me terem acabado os caracteres, atrever-me-ia a relembrar, só porque sim, que entretanto já passou um ano…