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Inteligência artificial e estupidez natural

Consciência que é a capacidade de sentir amor, dor, alegria, amor, tristeza, raiva

A nossa vida é, cada dia mais, regida por algoritmos sem que, na maioria das vezes, nos demos conta disso.

O anúncio que aparece na nossa página do Facebook, na nossa caixa de correio electrónico, no Tweeter, o artigo que nos é sugerido para ler, a publicidade a que somos permanentemente expostos, as decisões que tomamos baseadas em “evidências” que nos são discretamente apresentadas, as escolhas que fazemos plenamente convencidos de estar a usar o nosso livre arbítrio.

Ao contrário dos filmes de ficção científica, de meados do século XX, que nos assustavam com o domínio do mundo por um supercomputador que, subitamente, tinha enlouquecido, a actual e progressiva tomada de poder pela inteligência artificial não só não nos assusta como parece facilitar-nos a vida.

Tanto quanto sabemos, a inteligência artificial que já nos vai governando ainda não adquiriu consciência. Isto é, tem já significativa capacidade de resolver problemas, mas não terá, ainda, atingido o estado de consciência.

Consciência que é a capacidade de sentir amor, dor, alegria, amor, tristeza, raiva.

As pessoas têm a tendência de fazer equivaler inteligência a consciência. Provavelmente porque nós, humanos e os outros animais, estamos providos das duas e dificilmente as dissociamos.

As máquinas, mesmo as mais evoluídas, ainda não têm consciência. Não conhecem a ética nem na definição dos antigos gregos (carácter, “filosofia moral”, disposição, hábitos, costumes), nem na deficiente tentativa de tradução, pelos romanos, para “moral”, privilegiando o sentido comunitário do termo – diferenciação de intenções, decisões e acções entre as que são distinguidas como próprias e as que são impróprias.

Não tendo consciência, as máquinas da inteligência artificial não podem sentir dor, amor, ódio… nem remorso – sentimento de agir contra os próprios valores morais.

Os algoritmos são criados para resolver problemas, com eficácia e eficiência, tendo unicamente em vista os objectivos que se pretende atingir.

Acontece que nós tomamos por bons os resultados que os algoritmos nos apresentam e nunca, ou raramente, temos consciência de estarmos a abdicar da nossa capacidade de tomar decisões sujeitas à nossa consciência moral, ao julgamento do nosso intelecto, que é capaz de distinguir o “certo” do “errado”.

Estamos, acriticamente, a ignorar a nossa capacidade de nos relacionarmos com o nosso ambiente. Os valores éticos que nos informam individualmente e que, quando se transformam, pelo uso, em valores sociais, são o substracto da própria Lei, cujo alicerce é a Ética.

A humanidade, que há séculos luta pelo direito à independência, à liberdade, à autodeterminação, encaminha-se, paulatinamente, para suportar uma “ditadura digital”, cuja existência não é fácil de confirmar, difusa e permanente em todos os aspectos da nossa vida, desde a decisão de adquirir um electrodoméstico, ou um par de sapatos, à de aceitar a sugestão de séries ou filmes na Netflix ou na HBO, à de eleger um qualquer político.

A inteligência artificial permite processar enormes quantidades de informação. A progressiva fusão da biotecnologia e das tecnologias de informação, constitui a maior ameaça silente à nossa liberdade, criando novos tipos de opressão e discriminação. Discriminação já não baseada na cor da pele, no nível de instrução, na origem geográfica ou nacional, nem no grupo social a que se pertence.

Opressão e descriminação que poderão ser orientadas, não para grupos sociais, mas individualmente, para cada um de nós, desmobilizando a capacidade de nos unirmos para a enfrentar.