Vizinhos do Brasil afectados por crescente presença da variante brasileira
O agravamento da pandemia de covid-19 no Brasil, que regista um número recorde de mortes diárias e um sistema de saúde à beira do colapso, coincide com um crescente número de infeções com a variante brasileira nos países vizinhos.
Na terça-feira, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), um escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS), disse ter registado um pico de casos de covid-19 nos estados venezuelanos de Bolivar e Amazonas, assim como nos departamentos de Pando, na Bolívia, e de Loreto, no Peru, regiões que fazem fronteira com o país lusófono.
Além disso, países como Uruguai, Venezuela e Peru responsabilizaram a variante brasileira do coronavírus SARS-CoV-2, conhecida por P.1, pelo forte aumento de casos de covid-19 nos seus territórios, noticiou hoje a agência France-Presse (AFP).
Depois de ter sido detetada na cidade amazónica de Manaus no final de 2020, vários países proibiram voos oriundos do Brasil ou encerraram as fronteiras terrestres para tentar conter esta variante.
No entanto, mais de três meses depois, a variante foi identificada em 15 países ou territórios no continente americano, acrescentou a agência noticiosa francesa.
Atualmente, na América Latina e Caraíbas, cerca de 24 milhões dos seus 600 milhões de habitantes contraíram covid-19, tendo mais de 753.000 morrido devido à doença provocada pelo SARS-CoV-2, de acordo com uma contagem da AFP baseada em dados oficiais.
Na quarta-feira, o ministro da Saúde do Peru, Oscar Ugarte, disse que um estudo baseado em "amostras por toda a cidade de Lima" mostrou que a variante brasileira era responsável por 40% das novas infeções.
O Peru, que partilha com o Brasil uma fronteira de 2.800 quilómetros, identificou a estirpe pela primeira vez em janeiro, na região amazónica de Loreto.
Por outro lado, o Uruguai, que até há pouco tempo era elogiado por não estar particularmente afetado sem ter de recorrer ao confinamento, enfrenta agora o que o seu Presidente, Luis Lacalle Pou, apelidou de "situação complexa" e que coloca sob pressão o seu sistema de saúde.
O país, que conta com uma população de 3,4 milhões de pessoas, registou esta semana um recorde diário de 2.862 novos casos e, apesar dos apelos do setor da saúde, Lacalle Pou recusa-se a encerrar os serviços públicos e as escolas por "uma questão de princípio".
Já no Paraguai, onde as unidades de cuidados intensivos estão cheias, o Presidente, Mario Abdo, declarou uma semana de confinamento total, exceto para atividades essenciais, a partir de sábado.
Na Venezuela, um "confinamento radical" de duas semanas teve início na segunda-feira, depois de meses de alívio das medidas de contenção. Ainda assim, os números oficiais, que apontam para 152 mil casos e 1.511 mortes, são questionados por vários observadores neste país com cerca de 30 milhões de habitantes.
As campanhas de vacinação nesta região, realizadas a ritmos diferentes, também ainda não proporcionaram o alívio necessário.
No Chile, que tem uma das maiores campanhas de vacinação do mundo, atingiu recentemente um pico nos números da covid-19, com um novo recorde 7.000 de casos diários.
Com quase um milhão de pessoas infetadas, incluindo mais de 22.000 mortos desde o início da pandemia, o Chile confina a partir de hoje 70% da sua população, o equivalente a 14 milhões de pessoas. Com o recolher obrigatório no fim de semana, este valor deverá subir para perto de 90%.
O Brasil registou na terça-feira um novo recorde diário de mortes devido à covid-19, com 3.251 óbitos em 24 horas, ultrapassando a marca dos 300.000 mortos em 12,2 milhões de infetados neste país com 212 milhões de habitantes.
Dos 27 estados do país, 23 relatam uma ocupação superior a 85% nas suas unidades de cuidados intensivos, assim como falta de oxigénio.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.745.337 mortos no mundo, resultantes de mais de 124,8 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.