Os filhos, os herdeiros e os continuadores
Sempre que se passa o dia do Pai, ou dos Filhos, fico aflito ,mesmo deprimido, por tanto afecto comercial, ausência quase total de afectos, por vezes até ódio entre irmãos e mais preocupados com a herança ou até de doação de bens em vida.
Temos uma «geração à rasca» de pais, que trabalharam que se fartaram , para dar tudo aos filhos, pagaram com enorme sacrifício os estudos dos filhos, fizeram destes a geração mais qualificada academicamente de sempre.
Muitas vezes o salário ganho, a pulso , incluindo horas extras sábados e até domingos , para dar tudo aos meninos, para uma edução adequada e firme para a preparação dos filhos para a entrada no mercado de trabalho.
Não soubemos dizer não, demos tudo o que tínhamos. Contraímos empréstimos e o retorno do esforço é, por vezes, o abandono dos pais, no hospital , nos lares mas ficam com a pensão ou o uso dos bens, desejando que os velhotes partam para a outra margem da vida, a eternidade.
Os « pais à rasca» não vão aos concertos (aquilo não é para cotas), não vão aos restaurantes nem ao teatro nem ao cinema, resignam-se com a televisão lá em casa, mas os concertos estão cheios de jovens muitos entre os 30 e 40 anos que nunca trabalharam.
Os velhos andam de transporte público.É fixe. É ecológico, mas os meninos têm carros novos pagos a prestações pelos velhotes.
Nós os velhos somos escorraçados dos postos de trabalho, para deixarmos livres aos jovens altamente preparados, com o cartão dos partidos políticos dominantes e quando isso acontece vem a arrogância e prepotência ao de cima.
Os filhos não são exactamente aqueles que criamos com dedicação e amor. Estão influenciados pelas suas próprias vidas, pelos novos pares, muito vezes mudando à velocidade da luz.
A responsabilidade da vida deles pertence em última análise a cada um deles, não mais dos pais, mas quando estes precisam de algum apoio, a resposta é « não tempo», porém se o velhote tem uns trocos logo os filhos têm uma lista enorme de restaurantes para onde os levar.
O filho herdeiro,é aquele que recebendo a herança depois da morte dos pais, gasta a massa toda num ápice e depois vai viver á custa da Segurança Social.
O filho continuador é aquele que utiliza a herança e transforma em mais investimento e bem estar, em mais cultura, esse sim é o continuador.
Mas há também aqueles que desistem dos pais, que têm arrufos porque os pais não lhes doam bens em vida, que ainda os castigam psicologicamente . Foi criada o dia dos filhos e dos pais com intuito de fortalecer os laços familiares, cujo objectivo é justamente dos pais e dos filhos para que possam repensar nas suas rotinas e separar um tempo para a família.
Muito gostaria de mandar aos filhos uma mensagem já preparada comercilmente:
«-Meus filhos ,eu já disse e volto a repetir: vocês são a riqueza mais valiosa que eu poderia sonhar em ter nesta vida. Obrigado pelo amor e companhia. Não existe nada mais importante para mim que a felicidade de vocês. Feliz dia do filho».
A « geração à rasca » dos velhos já não aguenta . Começa a dizer não aos filhos, um não que nunca ensinaram a ouvir ,e que por isso não suportam, nem compreendem porque eles têm necessidades, porque eles têm direito , porque eles têm expectactivas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem e querem o que já ninguém lhes pode dar!
Eis aqui a razão de não gostar do dia pai, nem do dia de desistência do pai, e tanto me custa pensar no dia dos filhos, sinto alguma impotência e uma grande frustração.