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Vítor Bento disse em 2014 que não foi ouvido sobre resolução do BES

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O economista Vítor Bento, antigo presidente do Banco Espírito Santo (BES) e do Novo Banco que será hoje ouvido no parlamento, disse em 2014, em comissão de inquérito, que não foi ouvido acerca da resolução do BES.

"Não questiono a medida adotada. Acredito que o fizeram para a melhor proteção dos interesses em jogo. Mas não tomei parte nesta decisão, nem fui ouvido", afirmou o gestor perante os deputados da comissão de inquérito parlamentar ao caso BES, em 02 de dezembro de 2014.

Vítor Bento disse que foi informado da resolução do banco em 01 de agosto daquele ano (foi efetivada dia 03), tendo ele e a sua equipa (que incluía João Moreira Rato e José Honório) sido convidados a ficar à frente do Novo Banco.

"A primeira impressão com que fiquei é que a resolução era uma espécie de recapitalização pública", mas com um papel diferente do Estado, dada a intervenção direta do Banco de Portugal, sublinhou, tendo depois percebido que "não era assim".

Vítor Bento considerou que aquele era o tempo de sair da instituição, acabando por constatar que a equipa estava num processo em que tinha "a responsabilidade política", mas não executiva.

"Tivemos a noção clara nesse dia que, quaisquer que fossem as circunstâncias, não podíamos negar continuar à frente do banco. Reconsideramos a nossa recusa inicial, face à evolução das circunstâncias", justificou.

O economista disse então aos deputados que se tivesse abandonado o cargo quando foi tomada a medida de resolução para o BES teria causado uma "dificuldade muito grande" à própria aplicação da medida.

"Naquele momento tive o dever de não exercer o meu direito de renúncia", disse Vítor Bento, acrescentando que "o banco não abriria portas e a estabilidade financeira ficaria posta em causa" caso saísse.

Sobre a sua entrada no BES, disse que o convite de Ricardo Salgado foi "inesperado", mas que aquando do aumento de capital do BES o quadro que lhe foi apresentado foi que "o banco tinha um problema de exposição ao Grupo Espírito Santo (GES), mas que estava contido".

Segundo Vítor Bento, foi-lhe assegurado que se o banco viesse a ter problemas de capital, estaria disponível a linha de recapitalização pública, constituída em 2011, quando Portugal recorreu ao apoio financeiro da 'troika'.

O antigo presidente das duas instituições bancárias disse também ter ficado com a ideia que não havia disponibilidade política para recapitalizar o banco através de fundos públicos.

"Nunca ninguém do Governo me disse que havia possibilidade de ir à linha de capitalização, mas eu também nunca perguntei, porque considerei que esse era um dado adquirido", afirmou, salientando que também nunca fez nenhum "pedido assertivo" à ministra das Finanças de então, Maria Luís Albuquerque (PSD/CDS-PP).

Vítor Bento foi presidente da SIBS entre 2000 a 2014, membro do conselho de Administração da Galp, presidiu à SEDES - associação para o Desenvolvimento Económico e Social - entre 2006 e 2008, foi membro do Conselho de Estado e é professor universitário.