Facebook acusado de censura na Grécia por retirar fotos de manifestação
Três fotógrafos e um advogado gregos acusaram hoje o Facebook de censura, referindo que esta rede social norte-americana retirou fotos de uma manifestação a favor de um preso de extrema-esquerda em greve de fome.
Na segunda-feira, cerca de 3.000 pessoas manifestaram-se frente ao parlamento em Atenas em solidariedade com Dimitris Koufodinas, em greve de fome desde o início de janeiro e que está hospitalizado nos cuidados intensivos de um hospital no centro do país.
O Facebook, que considera não dever promover extremistas ou terroristas, indicou que as publicações sobre Koufodinas "contrariam as nossas normas em relação a indivíduos ou organizações perigosas".
"O Facebook retirou as minhas publicações por ter transgredido as normas da comunidade", declarou hoje na sua página Facebook Tatiana Bolari, que trabalha para a agência fotográfica grega Eurokinissi.
Lefteris Partsalis, um fotógrafo 'freelancer' que trabalha para a CNN Grécia, indicou que foi proibido de publicar durante um mês por ter divulgado na rede as fotos da manifestação de segunda-feira.
Acrescentou ainda que o Facebook "censurou uma publicação que descrevia o que se tinha passado segunda-feira nas ruas de Atenas, e não uma publicação que apoiasse quem quer que fosse".
"Milhares de pessoas concentraram-se e protestaram pacificamente", precisou.
Um terceiro fotógrafo, Marios Lolos, que trabalha para a agência chinesa Xinhua, também indicou que as suas fotos da manifestação foram censuradas no Facebook.
Um reputado advogado e defensor dos direitos humanos, Thanassis Kampagiannis, que participou na manifestação e contribuiu no lançamento de uma petição que apela às autoridades judiciais para acederem ao pedido de Koufodinas, também indicou que o Facebook impôs restrições à sua conta.
Koufodinas, 63 anos, chefe operacional do extinto grupo "17-Novembro" (17N), uma organização armada de extrema-esquerda dissolvida em 2002, iniciou no início de janeiro uma greve de fome na prisão de alta segurança de Domokos (centro da Grécia) para exigir a transferência para uma prisão de Atenas, perto da família.
Hoje, a sua advogada Ioanna Kourtovik declarou à cadeia televisiva Open TV que está "entre a vida e a morte, à beira do coma", e que o Governo adotou medidas "anticonstitucionais" para o manter numa prisão de alta segurança.
Por sua vez, as autoridades judiciais informaram ter ordenado ao hospital para tomar "todas as medidas necessárias" para manter o militante com vida.
Na segunda-feira, o Governo conservador grego disse que não vai intervir para promover uma transferência de prisão do militante. "Koufodinas está a pedir um tratamento privilegiado à margem das normais legais", considerou a porta-voz do Governo Aristotelia Peloni em declarações 'on line'.
Detido há 18 anos e meio, Koufodinas deixou de se alimentar há 53 dias e de se hidratar desde há dez dias. Desta forma, protesta contra "tortura" imposta pelo Governo, segundo a sua advogada, que também se referiu a uma "vingança" da família do atual primeiro-ministro, Kyriakos Mitsotakis.
O 17N adotou a luta armada a partir da década de 1970. Numa Grécia que acabava se sair da ditadura dos coronéis (1967-1974), instaurada com a ajuda da CIA, a organização executou em 1975 o chefe da delegação em Atenas dos serviços secretos norte-americanos. Enquanto se manteve ativa, matou outras 22 pessoas, desde próximos dos coronéis que se mantiveram ativos após 1974, cidadãos norte-americanos, empresários gregos, diplomatas turcos e um jornalista e deputado de direita.
Entre as vítimas incluiu-se Pavlos Bakoyannis, morto em 1990. Era pai do atual presidente da câmara de Atenas, Kostas Bakoyannis, casado com a deputada Dora Bakoyannis e cunhado do atual primeiro-ministro, Kyriakos Mitsotakis. Os três são quadros da Nova Democracia (ND, direita), o partido hoje no poder.
O atual Governo, que garantiu maioria absoluta nas legislativas de 2019, nega qualquer violação dos regulamentos de transferência de prisões.
Em 2002, quando a rede é desmantelada, Koufodinas entregou-se voluntariamente à justiça. Acusado de 11 mortes, foi condenado a diversas penas de prisão perpétua e remetido para a cave da prisão de Korydallos, perto de Atenas.
Em 2017, sob o Governo de Alexis Tsipras (Syriza, esquerda), foi enviado para uma prisão agrícola e obteve autorizações de saída por bom comportamento, em conformidade com os direitos dos detidos.
De regresso ao Governo em 2019, a ND alterou a lei sobre a detenção e adotou uma disposição que proíbe aos condenados por crimes violentos, onde se incluiu Koufodinas, de cumprirem pena numa prisão agrícola. Em 2020, foi transferido para a prisão de alta segurança de Domokos, e retirada a autorização de saídas.
O ex-dirigente do 17N pediu então uma transferência para a prisão de Korydallos, para estar mais próximo da família, mas obteve uma recusa categórica. Iniciou então uma greve de fome.
Para a sua advogada, "os direitos do detido estão a ser violados. O Governo não respeita a lei que ele próprio elaborou". E considerou que "a gestão do caso pelas autoridades é arbitrária e punitiva".
Iphigenia Kamtsidou, professora de direito constitucional na universidade de Salónica, também considerou que foi reservado ao detido "um tratamento discriminatório face ao artigo 4 da Constituição pelo qual os cidadãos são iguais perante a lei".
Desde há vários dias, partidos de oposição de esquerda, organizações de defesa dos direitos humanos ou simples cidadãos têm-se manifestado aos milhares pelo respeito dos direitos do detido.