Pai

Pai

Pai, apesar de já não estar fisicamente connosco continua vivo nos nossos corações e nas nossas memorias, a maior riqueza que herdamos sãos as vivências que tivemos com as pessoas que amamos. As saudades são imensas, mas o fato de termos partilhado tantos momentos bons, mas também menos bons foram a base para me tornar no que hoje eu sou. Neste dia tão especial apenas posso prestar ao meu querido Pai um pequeno tributo por tudo o que nos transmitiu.

O Pai foi um grande lutador, pois ao longo da sua vida teve de ultrapassar muitos desafios principalmente a nível de saúde, mas até ao final foi um guerreiro, mesmo nas situações mais difíceis sempre teve uma grande vontade de viver e continua a ser o meu maior ídolo.

O Pai era um aventureiro pois aos 25 anos, apesar de estar a trabalhar numa das maiores empresas, da altura na região, ocupando um lugar de chefia, contra tudo e todos, resolveu emigrar para um pais distante, desconhecia por completo a língua, mas o seu espírito de enfrentar novos desafios falou mais alto. A adaptação ao novo país foi difícil, passou por muitas dificuldades, mas conseguiu organizar a sua vida, constitui família e durante 15 anos trabalhou arduamente para ter condições para voltar à sua terra natal.

O regresso à Madeira, foi um novo desafio, encontrou uma ilha diferente da que tinha deixado, mais uma vez teve de se adaptar de modo a ter condições para sustentar a sua família. Mas aos 43 anos teve um grave problema de saúde, em que as hipóteses de sobrevivência eram praticamente nulas, felizmente conseguiu superar, apesar de algumas limitações, continuou sempre a lutar para conseguir alcançar os seus objetivos. Até a sua partida teve de enfrentar por diversas vezes vários problemas de saúde, a sua prioridade foi sempre os cuidados de saúde para ter qualidade vida pois o seu maior desejo era ver os seus filhos crescerem e conseguirem ter uma vida estável.

O Pai esteve sempre muito presente na nossa educação, apoiou os nossos estudos e dentro das suas possibilidades sempre nos ajudou. Um dos dias mais felizes da sua vida foi o nascimento da sua primeira neta que era a luz dos seus olhos e dos 5 netos atuais ainda teve o privilégio de conhecer o segundo neto que herdou muitas caraterísticas e qualidades do seu avô como a persistência, lealdade e uma cultura geral acima da média. O Pai teria muita alegria e orgulho em conhecer todos os seus netos.

O Pai adorava cozinhar e até hoje sinto o cheiro e sabor da deliciosa dobrada que preparava com tanta dedicação e amor. Cuidava das suas plantas e as suas preferidas eram os “Cróton” que admirava devido à beleza das suas folhas coloridas, tratava com muito carinho as suas plantações, a vinha e os maracujaleiros, tinha muito orgulho nas uvas americanas que colhia em meados de agosto pois eram deliciosamente doces e com maracujás fazia um sumo especial para os netos que ainda hoje recordam com muita saudade.

O Pai tinha interesses e hobbies ligados à cultura, como o gosto pela leitura, ia à “Feira da Lagartixa” que se realizava quinzenalmente no Largo da Restauração, para comprar livros em 2ª mão especialmente de autores portugueses do seculo XIX, frequentava os leilões, nos anos 90 era habitual a sua realização aos sábados à tarde, à procura de peças de decoração e tinha um grande interesse em colecionar moedas. A nível musical gostava imenso de músicas italianas e de fado e um dos fadistas de eleição era o Carlos do Carmo. Adorava uma boa conversa, tinha muito interesse em adquir novos conhecimentos e dentro das suas possibilidades sempre que possível viajava. O seu maior sonho era conhecer a Argentina, mas infelizmente não o conseguiu concretizar. O Pai não era um homem rico, mas sim um rico homem.

O Pai transmitiu valores à sua família que continuam tão presentes nas nossas vidas, tais como a importância da família, a honestidade, ser amigo do seu amigo, a dignidade, nunca desistir e viver intensamente cada momento pois apesar das adversidades que surgem a vida é bela.

Obrigado Pai!

Salvador Freitas