Crónicas

Diplomacia da Paz

É tempo de todas as religiões trabalharem em conjunto, para não permitirem que movimentos extremistas e pessoas sem escrúpulos, cometam todo o tipo de crueldades sob a capa da religião

Independentemente das nossas crenças religiosas, da fé que acolhe cada um ou da forma como nos entregamos a determinadas doutrinas ou credos, ninguém, mesmo nestes tempos mais ásperos, se deve alhear dos bons exemplos nem de aplaudir quem mesmo à custa de muitos riscos, se entrega à diplomacia pela Paz. De facto, vão-nos chegando ( talvez sem o impacto que deveriam ter ), notícias de gestos e atitudes que devemos registar, para também cada um de nós ser mais atento, vigilante e compreensivo. Porque sermos ativos no contributo que damos para tornar o Mundo num sítio melhor para se viver, não pode nem deve ser exclusivo de quem é praticante, mas sim uma exigência comum, transversal a toda a sociedade.

O papel das religiões, embora ( numa época consumista como esta ) seja muitas vezes reduzido ao ato de pedir quando alguém está aflito, ou para onde se corre em busca de auxílio quando se sente perdido, deve ir muito para além dessa aparente fé, em forma de desespero. Deve antes ser um farol que guia os que acreditam num caminho orientado pelas boas ações, pelas intenções mais puras e no preenchimento e satisfação pessoal, moldado pelo que contribuímos, muitas vezes nas decisões mais difíceis. A atitude das religiosas em Myanmar é disso um excelente exemplo. O agir sem pensar nas consequências pessoais, conduzidas pela vontade de atingir um bem maior, o bem comum. Para tentar evitar mais um massacre, mais atrocidades cometidas entre pessoas que se deveriam respeitar e saber conviver no mesmo espaço e que envergonham não só quem os pratica, mas toda a raça humana. Num ato de grande coragem, colocaram-se entre os militares e a população, evitando assim mais um banho de sangue, numa atitude que certamente será valorizada pelo Prémio Nobel da Paz, mas que acima de tudo enaltece uma forma de estar na Vida.

Também na recente visita do Papa Francisco ao Iraque, existe uma intenção, por parte de quem visitou mas também de quem recebeu. Um sinal que não deve ser desvalorizado e que se sintetiza muito bem numa frase. É tempo de todas as religiões trabalharem em conjunto, para não permitirem que movimentos extremistas e pessoas sem escrúpulos, cometam todo o tipo de crueldades sob a capa da religião. Tem que partir dos seus líderes, desmistificar essas justificações e mais do que isso, mostrarem de forma clara, que não pactuam com esse tipo de gente. Veja-se o que se passa no Norte de Moçambique, onde a violência parece não ter fim. Crianças são decapitadas porque se recusam a fazer parte desses grupos, famílias que têm que fugir das suas casas, das suas aldeias. Uma vida em constante sobressalto, carregada de medo e de insegurança, onde não se sabe como será o dia de amanhã, que dar de comer aos filhos ou para onde ir.

É importante por isso não nos esquecermos do que deve ser uma diplomacia pela Paz. Ainda agora, na minha recente viagem à Guiné Bissau e em conversa com um ex Primeiro Ministro, ele me falava sobre a energia que por cá gastamos a discutir o racismo, muitas vezes de forma filosófica, quando há tanto por fazer, nomeadamente em África e que essa energia pode e deve ser gasta no desenvolvimento de laços e nas construção de pontes, que permitam a criação de riqueza, para saírem dessa interna dependência das ajudas externas, que não permite aos Países progredirem. Disse até, que era obrigação da minha geração, que já não passou pelo processo de colonização nem da posterior separação, esse processo de aproximação, sem complexos de qualquer prisma. Com uma agenda comum, equitativa e assente na meritocracia. A diplomacia da Paz terá que passar por aí também. Libertarmo-nos de alguns anátemas do passado, para construir um futuro melhor.