Morales pede que responsáveis pelo "golpe de Estado" sejam "punidos"
O ex-líder da Bolívia Evo Morales pediu hoje que os responsáveis pelo "golpe de Estado" de novembro de 2019 sejam "investigados e punidos", após a detenção da ex-presidente interina Jeanine Ánez, que o sucedeu na chefia do país.
"Pela justiça e a verdade, pelos 36 mortos, os mais de 800 feridos e os 1.500 detidos ilegalmente durante o golpe de Estado. Que sejam investigados e punidos os autores e cúmplices da ditadura que (...) lesaram a vida e a democracia na Bolívia", declarou através da rede social Twitter o ex-chefe de Estado de esquerda do país andino (2006-2016), que se demitiu em plena crise pós-eleitoral, quando disputava um quarto mandato.
A ex-presidente interina da Bolívia, visada por um mandado de detenção por "sedição" e "terrorismo", foi detida hoje no âmbito do inquérito sobre um presumível golpe de Estado contra o antigo chefe de Estado Evo Morales, anunciou o ministro do Interior boliviano, Carlos Eduardo del Castillo.
A antiga presidente conservadora, à frente do país de novembro de 2019 a novembro de 2020, tinha divulgado na sexta-feira no Twitter uma fotografia do mandado de detenção emitido pelo Ministério Público, acompanhado do comentário: "A perseguição política começou".
Antes de Jeanine Ánez, dois antigos membros do governo tinham sido detidos na cidade de Trinidad (nordeste), os ex-ministros da Energia e da Justiça, Rodrigo Guzmán e Álvaro Coimbra, respetivamente, segundo imagens transmitidas por televisões locais.
O inquérito aberto pela Procuradoria segue-se a uma queixa apresentada em dezembro por Lídia Patty, antiga deputada do partido de Evo Morales, o Movimento para o Socialismo (MAS).
A antiga parlamentar acusa Jeanine Ánez, antigos ministros, responsáveis militares e policiais de terem derrubado Morales em novembro de 2019. Apresentou queixa por "sedição", "terrorismo" e "conspiração".
Foram igualmente emitidos mandados de captura para os ex-ministros do Interior, Arturo Murillo, da Presidência, Yerko Núnez, e da Defesa, Fernando López, bem como para vários ex-chefes militares e policiais.
Após as presidenciais de outubro de 2019 e na confusão que rodeou os resultados que davam Morales como vencedor, a oposição alegou fraude e registaram-se incidentes violentos em todo o país. O escrutínio foi anulado.
Num contexto de protestos que causaram pelo menos 35 mortos, polícia e exército retiraram o apoio a Morales, que acaba por se demitir e partir para o exílio, inicialmente no México e depois na Argentina.
Jeanine Ánez, segunda vice-presidente do Senado, tomou posse a 12 de novembro de 2019, tendo o partido de Evo Morales denunciado um "golpe de Estado".
Morales voltou à Bolívia após a vitória de seu delfim Luís Arce nas presidenciais de outubro de 2020.