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Oportunidade e prevenção

O país permanece em confinamento e a Madeira tem recolher obrigatório. Virámos a página do calendário do carnaval, mas a máscara acompanha-nos há meses e promete assim continuar. A economia e o desemprego sofrem o suplício da mortificação, mas, a ressurreição pascal certamente será também adiada, pois, as ressurreições apenas nas escrituras, é que ocorrem ao terceiro dia. O confinamento é um inferno, e o recolher obrigatório é um purgatório que aspira ao céu.

Somos um país pequeno e periférico, mas as ilhas estão sempre no cú de Judas desde o binóculo continental. Apesar do relojoeiro ter tido todo um ano para acertar os ponteiros, os números da DGS e do IASAÚDE nunca coincidem. À medida que a linha do tempo avança, a esperança e desesperança alternam-se num bailado esquizofrénico, entre o apetite algo contido de liberdade, e a censura dos atos irresponsáveis de alguns, enquanto o Estado ativa recorrentemente, aquela reserva securitária mais condizente dos cenários e tempos de guerra dos estados de emergência e da excepcionalidade que tende a parecer a regra.

Tal como ocorreu há uns anos no tempo da troika, entre o setor público e privado, e entre novos e velhos, há trincheiras conflituantes escavadas, que a esquerda por mero preconceito ideológico promove na clássica antagonização entre empresários e trabalhadores e novamente público e privado, aproveitando a boleia da devastação que a pandemia provoca, fazendo assim deslocar as suas responsabilidades enquanto tem em mãos o destino do país. A alegada burguesia que dizem existir sobre a qual, defendem recair impostos para pagar a crise, é um argumento identificado a uma visão sectária da sociedade, onde a produção de riqueza, requer sempre algum espezinhado e explorado. Contudo os contribuintes estão há muito exaustos de tanta carga fiscal que este Estado tanto saca, em nome da alegada redistribuição. A maioria do tecido empresarial português é composto por micro e pequenas empresas, cuja maioria se encontra agora descapitalizada e a lutar pela sobrevivência.

A TAP está ferida de morte, mas o Estado insiste em mantê-la ligada às máquinas, mesmo sabendo que jamais reverterá a situação. A operação de renacionalização operada há uns anos, apenas serviu para satisfazer um capricho da gestão pública que acelerou a sua ruína. E com ela precipita-se a Groundforce, que já nem tesouraria teve para honrar os salários deste mês. A TAP é já uma ferida aberta a reclamar constantemente recursos que não temos, tal como boa parte dos desaires bancários que ainda sustentamos. Talvez por isso paguemos mais pelos combustíveis que a generalidade dos países da UE, onde só para o tanque dos impostos despejamos mais de 60% de gasolina da mesma mangueira.

A pandemia não foi a ignição ou o “alfa” dos nossos males. Esta crise sanitária apenas destapou, acelerou e acentuou as nossas fragilidades enquanto país, e evidenciou como somos tão medíocres a planear e a pensar além do horizonte dos ciclos políticos/eleitorais. Podem muito bem despejar as munições todas da “bazuca”, como uma mangueira de alto débito sobre a casa em chamas. Se não houver prevenção, o fogo retornará a reclamar inclementemente o desleixo acumulado. Mas prevenir, nem sempre rende simpatias.