Aumento do número de hotéis à venda na Madeira é "prática natural" da actividade
A crise pandémica fez aumentar o número de hotéis à venda na Madeira, que passou de cinco, em março de 2020, para cerca de 20 este ano, mas o Governo Regional analisa a situação como "prática natural" da atividade.
"É natural que, em fases como esta em que nos encontramos, os investidores estejam mais atentos e mais desejosos da concretização de negócios. Por isso, é natural que o mercado também reaja, colocando à disposição unidades para venda", disse à agência Lusa o secretário regional do Turismo e Cultura, Eduardo Jesus.
Embora não existam dados oficiais sobre a quantidade de hotéis à venda, várias imobiliárias indicam, em 'sites' na internet, que cerca de 20 estão agora disponíveis, localizados em diversos concelhos da Madeira, com diferentes dimensões, entre 12 e 70 quartos, e com preços entre 800 mil euros e 16 milhões de euros.
Um dos maiores estabelecimentos atualmente à venda, por um valor não revelado, é, no entanto, o hotel da cadeia espanhola Riu Hotels, com 327 quartos, localizado no concelho de Santa Cruz, na zona leste da ilha da Madeira.
"O facto de haver unidades à venda, de se vender ou comprar unidades, não é o aspeto mais relevante. O que é relevante é que esses negócios permitam a continuidade da atividade e a manutenção ou crescimento dos postos de trabalho", disse Eduardo Jesus.
E reforçou: "Não temos conhecimento de nenhuma situação em que a possível venda seja para uma reconversão da atividade. Ou seja, todas as situações, que estão devidamente monitorizadas, são para a continuidade na atividade."
A Associação Comercial e Industrial do Funchal (ACIF) considera, por seu lado, que o aumento de hotéis à venda está diretamente relacionado com a "situação crítica e aflitiva" das empresas e com o "atraso no acesso aos apoios".
"As ajudas que têm sido lançadas não são suficientes. São positivas, umas mais do que outras, mas não são suficientes", disse à agência Lusa o presidente da ACIF - Câmara de Comércio e Indústria da Madeira, Jorge Veiga França, sublinhando que o setor do turismo foi o mais afetado pela crise da covid-19.
De acordo com um inquérito promovido pela associação, numa amostragem equivalente a 56% da capacidade do arquipélago (3.864 funcionários e 16.300 camas), a maioria afirmou não ter autonomia para suportar responsabilidades e salários, nem condições para proceder à reabertura gradual dos estabelecimentos sem ajudas adicionais.
Por outro lado, 70% dos inquiridos indicou dispor de capacidade para pagar somente dois meses de salários - março e abril - e apenas 4% poderá suportar essa responsabilidade até ao final do ano.
"Defendemos a alteração de algumas ajudas, designadamente a possibilidade de o setor hoteleiro aceder ao 'lay-off' simplificado mesmo quando não haja confinamento total obrigatório e independentemente do volume de quebras na faturação", disse Jorge Veiga França.
O responsável apontou também a necessidade de recapitalizar as empresas, de isentar o pagamento da Taxa Social Única (TSU) e de prorrogar as moratórias ao nível de créditos, juros e rendas, independentemente da tipologia das empresas.
"Caso contrário vamos ter de começar a despedir pessoas e aqueles mais aflitos vão ser obrigados a pôr à venda algumas das suas unidades hoteleiras", alertou.
De acordo com dados oficiais, o turismo - que representa cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) regional, foi um dos setores mais afetados pela crise pandémica, tendo registado perdas de 68,1% ao nível de proveitos globais, 64,2% no número de hóspedes e 66,1% no número de dormidas.
O secretário do Turismo e Cultura sublinhou, no entanto, que o executivo, de coligação PSD/CDS-PP, está em "contacto diário" com o setor, e procura conjugar de "forma rápida" as medidas de auxílio nacional e regional.
No caso da venda de hotéis, Eduardo Jesus considera que o mais importante é manter a atividade e salvaguardar os postos de trabalho.
"O que temos registado ao longo do tempo é que, através de processos de compra, de concentração e fusão ou de desintegração de grupos em unidades mais pequenas, a atividade tem crescido e o emprego tem-se promovido, e isso é o fundamental", declarou.
O governante indicou que, mesmo antes da pandemia, o número de hotéis à venda na Madeira também era, por vezes, elevado, como em 2019, quando se encontravam disponíveis no mercado 12 empreendimentos.
"Não temos nenhum registo de alteração da atividade", disse, reforçando: "Pode-se mudar de donos, pode-se mudar de acionistas, pode-se mudar de marca, pode-se mudar de posicionamento, mas é sempre dentro do setor do turismo e é isso que nos interessa."