OMS mostra grande preocupação com Brasil e pede "medidas sérias"
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) disse hoje estar "muito preocupado" com a situação epidemiológica da covid-19 no Brasil e pediu ao Governo de Jair Bolsonaro que tome "medidas sérias".
Tedros Adhanom Ghebreyesus reiterou assim os seus alertas sobre a situação da pandemia no país sul-americano, presidido por Jair Bolsonaro.
"Estamos muito preocupados, porque não só o número de casos, mas também o número de mortes estão a aumentar", disse o diretor-geral da OMS, em conferência de imprensa.
"Se nenhuma medida séria for tomada, a tendência atual (...) traduzir-se-á em mais mortes", alertou, pedindo ao Governo que "leve a situação a sério".
Um ano após a pandemia ser oficialmente declarada no país, o Brasil acumula 10,3% das mortes notificadas no mundo por covid-19, sendo que tem apenas 3% da população global, segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
O Brasil, que nos últimos dois dias registou mais de duas mil mortes diárias devido à covid-19 e que enfrenta agora o momento mais crítico da pandemia, tem vários hospitais em colapso e novas estirpes do vírus em circulação, o que levou governadores e prefeitos a decretar medidas restritivas de isolamento social.
Contudo, Bolsonaro, um dos chefes de Estado mais negacionistas em relação à gravidade da covid-19, defende que a população brasileira saia à rua em prol da economia, e "antevê problemas sérios" caso isso não aconteça.
O Presidente brasileiro tem sido ainda alvo de muitas críticas por parte de especialistas em saúde pública por defender publicamente o uso de medicamentos cuja eficácia contra o vírus não foi comprovada, como a hidroxicloroquina.
"As autoridades devem enviar mensagens claras sobre a situação e as medidas a serem tomadas", disse Tedros Adhanom Ghebreyesus.
A atual situação no Brasil, caso persista, ameaça atingir os países vizinhos, que, de modo geral, estão numa melhor posição do que a nação brasileira, advertiu ainda.
A OMS está particularmente preocupada com a circulação no Brasil de uma das estirpes mais contagiosas do coronavírus, chamada P.1 e que surgiu em Manaus, na região norte do país.
"Estão a decorrer vários estudos sobre essa variante P.1, a fim de quantificar a sua transmissibilidade e gravidade. Há elementos que sugerem que a sua severidade também está a aumentar", observou a epidemiologista Maria Van Kerkhove, coordenadora da gestão da pandemia na OMS.
Segundo o Ministério da Saúde brasileiro, a estirpe P.1 é, pelo menos, três vezes mais contagiosa do que a original.
O Brasil, com 212 milhões de habitantes e que vacinou cerca de 4% da sua população, concentra 272.889 mortes e 11.277.717 casos de infeção, sendo um dos três países mais afetados pelo novo coronavírus em todo o mundo.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.630.768 mortos no mundo, resultantes de mais de 118,5 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.