Filho de Bolsonaro ataca imprensa e diz para "enfiar máscara no rabo"
A polémica postura de membros do Governo brasileiro face a medidas de proteção da covid-19 aumentou esta semana após um dos filhos do Presidente, Jair Bolsonaro, ter convidado os jornalistas a "enfiar as máscaras no rabo".
"Eu acho uma pena que essa imprensa 'mequetrefe'[sem caráter] que a gente tem aqui no Brasil fique dando conta de cobrir apenas a máscara. 'Ah a máscara, está sem máscara, está com máscara'. Enfia no rabo gente, porra! Estamos lá trabalhando, ralando", disse o deputado federal Eduardo Bolsonaro, num vídeo publicado na noite de quarta-feira na rede social Instagram.
O filho do Presidente do Brasil, que ocupava o cargo de presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, referia-se a uma viagem que fez esta semana a Israel, integrado na comitiva do Governo brasileiro para conhecer um spray nasal contra a covid-19 que está em desenvolvimento em Tel Aviv.
Contudo, o deputado federal foi alvo da imprensa brasileira, que destacou o facto de a comitiva brasileira não ter usado máscara durante alguns momentos da viagem e de Eduardo Bolsonaro ter utilizado de forma incorreta a proteção, ao não cobrir o nariz com a máscara num encontro com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.
"Chegamos em Israel, cinco horas a mais do que no Brasil, voo de três escalas. Chega lá e você nem toma banho, às vezes vai direto para os compromissos", justificou o terceiro filho do mandatário.
Após os ataques de Eduardo Bolsonaro à imprensa, o ex-ministro da Saúde e deputado de esquerda Alexandre Padilha usou as redes sociais para responder com ironia às declarações: "A Saúde adverte: não há transmissão anal da covid-19. Parece absurdo ter que explicar, mas a família Bolsonaro nos obriga a isso".
O uso de máscara como medida contra a covid-19 tem sido criticado pelo próprio Presidente brasileiro, que se opõe ainda ao isolamento social para controlar a disseminação do vírus.
No final de fevereiro, Jair Bolsonaro causou polémica ao dizer que as máscaras de prevenção contra a covid-19 causam "efeitos colaterais", citando um estudo alemão, sem rigor científico e limitado a uma sondagem com ampla participação de negacionistas, para argumentar que as máscaras não são eficazes para conter a propagação do vírus.
"Começam a aparecer estudos, não vou entrar em detalhes, não é?!, sobre o uso de máscaras. Num primeiro momento, uma universidade alemã fala que elas são prejudiciais para crianças, e levam em conta vários itens, como irritabilidade, dor de cabeça, dificuldade de concentração, diminuição da perceção de felicidade, recusa em ir para a escola ou creche, desânimo, comprometimento da capacidade de aprendizagem, vertigem, fadiga. Então começam a aparecer aqui os efeitos colaterais das máscaras", afirmou Bolsonaro.
O chefe de Estado, que é frequentemente visto em público e em aglomerações sem máscara, frisou que não daria mais detalhes sobre o estudo porque "tudo desagua em crítica em cima" do Presidente.
"Tenho a minha opinião sobre máscaras, cada um tem a sua, mas a gente aguarda um estudo mais aprofundado sobre isso por parte de pessoas competentes", acrescentou Jair Bolsonaro.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o "uso generalizado de máscaras" como parte de uma estratégia abrangente para suprimir a transmissão do novo coronavírus.
O Brasil, com 212 milhões de habitantes e que vacinou cerca de 4% da sua população, concentra 270.656 mortes e 11.202.305 casos de infeção, sendo um dos três países mais afetados pela doença em todo o mundo.
O país sul-americano, que atravessa o seu pior momento da pandemia, ultrapassou na quarta-feira, pela primeira vez, a barreira das duas mil mortes diárias devido à covid-19 (2.286), um novo recorde pelo segundo dia consecutivo, segundo dados do Governo.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.611.162 mortos no mundo, resultantes de mais de 117,5 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.