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Ninguém é de ninguém!

Há pessoas que, em pleno século XXI, ainda encaram o Dia das Mulheres como um dia para romantismos, flores, canções, e strip-tease

Hoje é o dia em que começa o mês dedicado às causas das mulheres. Diz quem analisa a história, dos nossas tempos, que há muitos acontecimentos que tornaram Março no mês em que vários lutas marcaram a vida das mulheres, quer fossem operárias, quer de outras origens mais inteletuais.

Foram essas lutas por direitos no trabalho, menos horas e melhores salários, proteção social, direito ao voto para decidirem dos destinos dos seus Países, mais apoio às crianças e à família, direito a decidirem sobre a sua vida privada, etc., que as mulheres um pouco por todo o mundo encabeçaram e conseguiram muitas conquistas.

Quando a ONU, em 1975, consagrou o dia 8 de Março como o Dia Internacional das Mulheres, já muitas destas lutas tinham sido travadas pelas mulheres, e já muito tinha sido alcançado, graças à sua tenacidade e resiliência de, perante as dificuldades e repressão sofrida, nunca desistirem até os dias de hoje.

Há pessoas que, em pleno século XXI, ainda encaram o Dia das Mulheres como um dia para romantismos, flores, canções, e strip-tease, como se isso representasse o que deu origem a este dia. O 8 de Março tem origem nas lutas de mulheres por direitos dignos e iguais, que fizeram com que as sociedades se tornassem mais humanas e justas.

É preciso que alguém se lembre disto para que a história não seja deturpada. Por mim, podem fazer todas as realizações que quiserem, até vestirem um vestido novo, abrir uma garrafa de champanhe e brindar à mulher ao som de belas canções, desde que o façam sem dizer que estão a homenagear o dia 8 de Março. Poderão até ter as melhores intenções de homenagear as mulheres enquanto seres humanos que chegaram aos dias de hoje e torná-las felizes. Nada contra, mas dizer que o 8 de Março é isso, não é ser verdadeiro. O 8 de Março existe porque existiram mulheres que lutaram para que hoje tenhamos direitos.

Nunca devemos esquecer que, por exemplo, o direito ao voto em Portugal, só foi alcançado para as mulheres, em igualdade de circunstâncias para com os homens, um ano após o 25 de Abril de 1974. Antes, só uma minoria é que podia votar. Poderia estar a enunciar muitos dos direitos que em Portugal só foram conseguidos a partir dessa data. Mas já os repeti tantas vezes que acho que, se as memórias não são curtas, ainda se lembram deles.

O que mais me aflige nesta data, neste ano de pandemia, são os números dos maus tratos a mulheres de todas as idades e, também, de crianças que acabam por ser apanhadas nessa rede de violência, dentro de portas. Há dias foi noticiado que as queixas por violência tinham diminuído. Gostava de perguntar a quem fez essa análise se tem consciência do quanto é difícil a uma vítima apresentar queixa quando esta habita no mesmo espaço do agressor, sem qualquer alternativa? Já pensaram no sofrimento dessas pessoas e no quanto se sentem infelizes?

Vivemos num País e numa Região onde ainda se mata só porque se julgam donos dos corpos das mulheres. “Ninguém é de ninguém” deveria ser o slogan deste mês de Março. Ninguém tem o direito de maltratar ou de matar outra pessoa. Quando deixamos de gostar de alguém e já não nos dá prazer estar com essa pessoa, existem leis que ajudam na separação necessária. Ficar na mesma casa com sofrimento e dor, não é amor. É mais sofrimento. Amor deve ser prazer, carinho e atenção. O resto são disfarces, que podem acabar em tragédias, como temos assistido, infelizmente.

Neste mês de Março lembremos que o mundo só muda para melhor com a participação de todos e todas nós.