Madeira tem "capacidade razoável" em cuidados intensivos mas "sacrifica" outras áreas
O Serviço de Saúde da Madeira (Sesaram) dispõe de "capacidade razoável" para tratar doentes com covid-19 em cuidados intensivos, mas isso implica "sacrificar" outras atividades, admite o diretor clínico, José Júlio Nóbrega, apontando como exemplo o bloco operatório.
"Se vou buscar enfermeiros do bloco operatório para nos ajudar, é claro que algumas cirurgias vão deixar de acontecer", disse à agência Lusa, referindo que também o programa de recuperação de cirurgias, iniciado em janeiro de 2020, foi prejudicado pela pandemia.
José Júlio Nóbrega revelou que, até 31 de janeiro deste ano, 42 doentes com covid-19 estiveram nos cuidados intensivos, com idades entre os 39 e os 88 anos, sendo a média de 69 anos. O período de permanência foi de cerca de oito dias.
A taxa de mortalidade nesta unidade foi de 19,5%.
A duração média de internamento na Região Autónoma da Madeira é, no entanto, de 19 dias.
"Está a acontecer uma coisa para a qual as pessoas têm de estar preparadas: muitos doentes deixaram de ter a doença aguda e agora têm as sequelas da doença", alertou, reforçando: "Às vezes, vêm a morrer não por estarem infetadas, mas porque a covid-19 deixou tanta lesão pulmonar que não recuperam."
José Júlio Nóbrega sublinhou que houve doentes que morreram sem passar pelos cuidados intensivos, inclusive em casa, ao passo que outros permanecem nos cuidados intensivos mesmo depois de superarem a infeção.
"É uma doença terrível", alertou.
De acordo com os dados mais recentes, o arquipélago da Madeira assinala 1.799 casos ativos, num total de 5.803 confirmados desde março de 2020, com 61 doentes hospitalizados, sete deles na unidade de cuidados intensivos. Há também registo de 54 mortes associadas à doença.
O diretor clínico do Sesaram refere que, desde o início da pandemia e até 06 de fevereiro, um total de 461 pessoas infetadas com SARS CoV-2 estiveram internadas em dois hospitais do Funchal, onde existem 172 camas dedicadas à doença - 72 no Hospital dos Marmeleiros e 100 no Hospital Dr. Nélio Mendonça, que dispõe também de 36 quartos individuais numa área de contingência destinada aos casos suspeitos.
O Sesaram afetou cerca de 10 médicos e 130 enfermeiros à área covid-19, mas José Júlio Nóbrega afirma que não dispõe de equipas de cuidados intensivos exclusivas para a doença, e recorre a pessoal de outros setores mediante o número de doentes internados e a gravidade dos mesmos.
"Já conseguimos garantir um nível de proteção [ao nível de equipamentos] que nos permite fazer isto", explicou, vincando que a região continua com "capacidade e disponibilidade" para receber mais doentes transferidos do continente, além dos três internados em 29 de janeiro.
"Eu creio que é uma questão de solidariedade e se houve solidariedade foi das famílias. Aqueles doentes já estavam numa cama de cuidados intensivos e foi preciso pedir autorização à família para a sua transferência para tão longe. Quem foi solidário, aqui, foi o familiar do doente que permitiu que ele viesse", declarou, realçando que isso permitiu libertar camas para outros doentes no continente.
José Júlio Nóbrega revelou, por outro lado, que 141 profissionais do Serviço de Saúde da Madeira, incluindo médicos e enfermeiros, contraíram o vírus entre novembro de 2020 e janeiro de 2021, ao passo que, do total de 5.490 que integram o Sesaram, 2.731 já tinham sido vacinados contra a covid-19 até 15 de janeiro, a par de 2.659 utentes e funcionários de lares da região autónoma.
O diretor clínico não especificou qual o limite de camas para internamento em cuidados intensivos, embora a Secretaria Regional da Saúde refira uma capacidade para tratar 50 doentes em simultâneo.
"Nós tivemos em 2020, em cuidados intensivos, 10 doentes. Em 2021, em apenas 15 dias, tivemos 21 doentes. Aumentou de forma significativa", explicou, sublinhando que o agravamento da situação epidemiológica obrigou a "sacrificar" outras atividades, sem, contudo, diminuir o número de consultas.
José Júlio Nóbrega considera que o aumento do número de casos na região durante o mês de janeiro, diariamente acima dos 100, se deve a uma conjugação do aparecimento de variantes do vírus mais contagiosas e do comportamento das pessoas no período festivo, mas, ainda assim, recusa-se a "culpar a sociedade".
"Em quase todas as regiões do mundo vimos manifestações antimáscara, manifestações anticonfinamento. Na Madeira, não vimos nada. Houve, contudo, um certo deixar acontecer. É natural, as pessoas ficaram cansadas", disse, realçando que os contágios ocorrem, agora, sobretudo em ambiente familiar e laboral.
E reforçou: "Este vírus é tramado. É verdade que muita gente fica assintomática, a maior parte tem doença ligeira, mas naqueles que ele atinge é muito difícil."