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Os Deuses devem estar loucos

Há dois anos se alguém dissesse que iríamos passar por tudo o que está a acontecer, hoje diríamos que era louco ou que as premonições seriam, no mínimo, apocalípticas.

Alterações climáticas que nos deixam confusos com o estado do tempo, terramotos, guerra, a pandemia, problemas sociais, aumento de crimes ligados à violência, violação dos grupos mais vulneráveis e a inevitável crise económica global.

Nos momentos mais críticos da história, vão aparecendo personagens, à direita e à esquerda, que se aproveitam dos nossos medos e da nossa frustração face a um sistema caduco que deixa de dar respostas eficazes, mas também das nossas fragilidades enquanto seres humanos. Prometem ser os salvadores. As mentes extremas digladiam-se entre si, acusando-se mutuamente de falta de democracia e prometendo resolver os problemas com medidas pouco democráticas. Cada um de nós assiste a tudo isto e com a mente seletiva, porque está tão difícil pensar global, vamos defendendo aquilo que nos é conveniente ignorando ou simplesmente não ouvindo o que não nos interessa.

É tão fácil calar os extremos se o centro funcionar, ouvir as populações e trabalhar em prol destas. As pessoas estão fartas de discursos vazios e da delineação de prioridades que nada tem haver com as reais necessidades das pessoas. De retórica política, que apenas serve para entreter o ego dos seus intervenientes, onde a demagogia, a mentira, a deturpação de factos é o que conta para o espetáculo mediático.

Analisem onde assenta, de forma genérica, o discurso populista dos extremos e resolvam as questões a ele associadas. Está provado que, genericamente, a população abomina os crimes sexuais, violência doméstica e contra idosos. Problema de fácil resolução: aumentem as penas, façam estes julgamentos com celeridade e retirem a possibilidade de penas suspensas a este tipo de crimes. Está provado que, de forma genérica, a população considera que quem recebe apenas apoios sociais deveria dar um contributo à sociedade com a prestação de trabalho comunitário, desde que esteja apto fisicamente para o fazer. Será tão difícil definir regras para que estas pessoas prestem algumas horas, de acordo com o rendimento obtido dos impostos de todos nós, em instituições públicas ou sem fins lucrativos? Não me parece.

A população portuguesa, na sua grande maioria, não é racista e acredita na igualdade de oportunidades e tratamento. O que os portugueses não querem é que grupos ou minorias sejam favorecidos, em detrimento de outros em situações semelhantes. Quem vem para Portugal, quem está em Portugal, tem de cumprir as regras, a lei, as normas do nosso país. E acreditem, o nosso país em tantas matérias é socialmente muito evoluído. Aqui não podem existir tradições, costumes que violem a lei e que sejam aceitáveis porque as pessoas têm outras origens. Crianças a casar ou crianças a serem impedidas de frequentar a escola, entre tantos outros exemplos, não pode ser admissível em nenhuma circunstância. Quem cá está tem de cumprir.

A justiça laboral é o que leva ao desenvolvimento económico de uma sociedade. Se as famílias tiverem poder de compra, o crescimento económico é garantido e sustentável. A resolução destas questões prende-se muito, neste momento, com uma organização de impostos menos penosa para as famílias e empresas, mas paralelamente terá de existir mais fiscalização para que todos sejam cumpridores.

A corrupção é outro dos pontos amplamente discutido pelas diversas vertentes políticas ao longo dos anos no nosso país. Resolvam os escapes jurídicos que arrastam processos durante décadas e levam muitas vezes à impunidade. Poderá ser que, minimamente, as pessoas sintam que há uma justiça que actua. Aqui não há inocentes.

Não há inocentes porque, de uma forma ou outra, todos colaboramos com ela. Somos permeáveis ao jeito, ao favor, porque temos um sistema que falha em todas as áreas e, quando estamos aflitos, usamos todos os meios para obter a ajuda que precisamos. Custa admitir mas esta é a verdade mais crua.

O processo de vacinação ainda agora começou e já começou a dar problemas. Os supostos crimes de vacinação indevida não são só de quem distribui, mas também de quem conscientemente recebe. Mas destes últimos ninguém fala. Quem sabe que recebe sem o dever, no momento actual, é tão imoral como quem o dá. Vergonha... Depois temos o exagero da perseguição a quem, no momento, teve de tomar uma decisão, cuja resolução tem de ser efetuada em cerca de 30 minutos com as sobras das vacinas previstas. Ali ou se dava a pessoas, mesmo não sendo do grupo prioritário ou praticava-se um crime bem maior, o de deitar vacinas para o lixo que salvam vidas. Mas estes que tiveram de tomar a decisão, e bem, são igualmente chamados de bandidos ao invés de quem é responsável pela delineação do plano e não prever as contingências e não propor soluções e procedimentos imediatos, nomeadamente de grupos de vacinação prioritários de prevenção para o caso de ser necessária uma vacinação imediata.

Vivemos momentos difíceis e, infelizmente, irão continuar por mais algum tempo. Que a serenidade e o bom senso prevaleçam.

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