Três alertas
Boa noite!
De mais um dia que passa sobram-me três alertas.
O primeiro li no 'Público', jornal onde o psiquiatra Vítor Cotovio enfatiza uma crise sem precedentes da saúde mental, sublinhando que ignorá-la será um erro “de dimensões catastróficas”. Para quem tem dúvidas do colapso colectivo, só nos primeiros oito meses de 2020, venderam-se 6,5 milhões de embalagens de antidepressivos. Para quem desconfia dos números que passe a olhar para além do óbvio e da fachada. Para quem acha que está tudo controlado, perceba o que há para além da pandemia numa terra em que muitos começam "a bater mal" e os desequilíbrios multiplicam-se. Tirar dividendos desta manifesta fragilidade é repugnante.
O segundo encontrei na rua, em silêncio. O rosto marcado pela dor de quem outrora sempre andou de cara levantada e airosa é eloquente. O desânimo nem é financeiro. Falta-lhe quem lhe dava rumo, a companhia eterna que uma qualquer doença que não a Covid levou sem avisar. "E agora?", pergunta perdido o outrora robusto cidadão que confidencia que sem suporte familiar tudo deixa de fazer sentido. Até porque agora nem há amigos por perto, nas horas de maior solidão. Um drama.
O terceiro está subjacente nas conversas cruzadas que se vão deleitando com a marginalidade típica portuguesa em torno do processo de vacinação em curso. De repente, a pretensa imunidade de grupo passa para segundo plano. O jeitinho a um ou outro, alegadamente para que a vacina não se perca, ganha primazia na avaliação. E andamos nesta mesquinhez bigbrotheriana há vários dias, distraídos com aldrabices pontuais quando devíamos estar focados na cura.