Reino Unido e UE reúnem-se para tentar apaziguar tensões na Irlanda do Norte
Representantes do Reino Unido, Irlanda do Norte e União Europeia reúnem-se hoje numa tentativa de apaziguar as tensões pós-Brexit que abalaram o delicado ambiente político na região britânica.
O ministro de Estado britânico, Michael Gove, o vice-presidente da Comissão Europeia Maros Sefcovic e os líderes do governo de coligação da Irlanda do Norte vão encontrar-se em videoconferência para discutir os problemas que surgiram apenas um mês após entrar em vigor o acordo de Comércio e Cooperação entre o Reino Unido e União Europeia (UE).
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, urgiu a UE a "resolver os problemas pendentes com a implementação do Protocolo" da Irlanda do Norte, que estão a ter impacto na entrada de mercadorias para a região.
"Atitudes recentes da UE minaram o Protocolo e, compreensivelmente, provocaram preocupação", lamentou, numa referência à ameaça de Bruxelas de proibir a exportação de vacinas contra a covid-19 para a Irlanda do Norte para tentar garantir mais doses do medicamento.
Apesar de a UE ter recuado, a situação agravou as tensões na região, ainda marcada pelo conflito histórico entre 'unionistas' pró-britânicos e nacionalistas republicanos irlandeses.
As autoridades da Irlanda do Norte suspenderam os controlos veterinários e retiraram os funcionários aduaneiros dos portos de Belfast e Larne esta semana, e a polícia intensificou as patrulhas, após terem sido encontrados 'graffitis' ameaçadores apontando os trabalhadores portuários como alvos.
Os funcionários também relataram sinais de comportamento suspeito, incluindo de pessoas a tomar nota dos números das matrículas de veículos.
Os controlos aduaneiros sobre as mercadorias que entram na Irlanda do Norte provenientes do resto do Reino Unido são um resultado controverso do 'Brexit'.
Desde que o Reino Unido deixou definitivamente o mercado único europeu, no final de 2020, as mercadorias que se deslocam entre o Reino Unido e o bloco europeu passaram a ser sujeitos a controlos alfandegários e veterinários, incluindo alguns produtos britânicos que vão para a Irlanda do Norte porque a região faz fronteira com a Irlanda, membro da UE.
Políticos 'unionistas' pró-britânicos contestam estes controlos por representarem uma barreira entre a Irlanda do Norte e o resto do Reino Unido e querem rever o Protocolo da Irlanda do Norte que foi incluído no Acordo de Saída do Reino Unido da UE e que dá à região um estatuto comercial separado para o resto do Reino Unido
O Partido Democrata Unionista, que dirige o Executivo de coligação de Belfast, recusa-se a cooperar com o Governo irlandês na implementação das novas regras, as quais foram a solução encontrada para manter a fronteira aberta com a Irlanda, respeitando assim os acordos de paz de 1998.
A polícia advertiu que os violentos legalistas pró-britânicos poderiam aproveitar-se das tensões para reacender o conflito, embora digam que a ameaça atual parece vir de um pequeno número de indivíduos, e não de grupos paramilitares.
Maros Sefcovic reafirmou hoje que o Protocolo sobre a Irlanda do Norte é uma "prioridade absoluta para a UE" e a única forma de proteger os acordos de paz, "protegendo a paz e a estabilidade na ilha da Irlanda".