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Flashes

Rio-me, como um rio que vai ao contrário, se me lembras Diógenes, esse que deambulava pelas ruas com vestes andrajosas e o bastão, respeitador de gente humilde, mas que não se curvava diante de Alexandre, o Grande. Diógenes com um rio que regressa à nudez da nascente, uma espécie da contramão de “O Curioso Caso de Benjamin Button”. E, qual Diógenes, face ao caos lá fora.

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In Memoriam. Importa não esquecer os 72 anos do dantesco Desastre da Assistência, ocorrido na cidade da Praia. Importa lembrar, para exorcizar e sublimar, o trágico momento da queda do muro dos Serviços Cabo-verdianos de Assistência, em 1949, custando a vida de centenas de pessoas, ajuntadas para a refeição pública. Pesadelo conhecido por Fome dos Quarenta. Importa não ficar indiferente diante da Memorial à Fome e às Vítimas do Desastre da Assistência, monumento concebido pelo arquiteto Carlos Hamelberg Pereira, porquanto tempo é de aprofundar o seu significado, de ir além do significante dos seus três pilares/obeliscos e dos seus 49 arcos que dão conta do ano fatídico. E desafiam, jus nosso, da transcendência existencial.

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Albisa grandi. Sim, saudar, louvar e augurar longa vida ao Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo, que celebrou há dias o seu 28º aniversário. João Branco, através do qual felicito dezenas de artistas e artífices do teatro cabo-verdiano, fala no feito de o Grupo ter colocado em palco peças, a partir dos escritos de Arménio Vieira e de Germano Almeida, entre as suas 61 produções. Como não aplaudir?

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Não amaldiçoo a memória do tenente-coronel Marcelino da Mata, nem sou insensível ao Síndroma Pós Traumático dos envolvidos na chamada Guerra Colonial. Mas loas e louvores, sem perda de lucidez, teço-os aos heróis das independências durante o período da Luta pela Liberdade da Pátria. Os que então estiveram do “lado errado” da História, alguns plantando terror e cometendo crimes de guerra, paradoxalmente também foram vítimas do Estado Novo.

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Keep on pushing. Entrementes, não sou de extremar o discurso em qualquer tempo, mormente neste mais catastrófico. Qual rio invertido. Subscrevo do poeta Arménio Vieira o dístico “metaforizar o discurso para salvar o pensamento”. Lá fora, a distopia, a espiral da irresponsabilidade climática, da xenofobia, do racismo, da desigualdade e da injustiça social. Não existe (ainda) paz lá fora..

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Educar para o pensamento e a liberdade, como Paulo Freire e Amílcar Cabral propunham. Ainda...ainda, minha gente.