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Informação, desinformação, contra-informação

Hoje, não sei bem porquê, deu-me para falar de “informação”, “desinformação” e “contra-informação”.

Em 1968, era eu um jovem estudante que me tinha deixado ficar “esquecido” em Paris, quando tive oportunidade de frequentar, durante uma tarde, um curso altamente secreto sobre “Contra-informação e guerrilha de cidade”, ministrado por dois refugiados da América Central que por lá andavam escondidos.

Enquanto tomava as precauções que me tinham sido impostas no que diz respeito a secretismo e não utilização de qualquer tipo de documento de identificação, ia pensando que não fazia ideia do que seria “contra-informação”. Nem disso se falava em Portugal. Muito menos de guerrilha de cidade...

Passei uma tarde, um pouco assustado, com mais três portugueses, um espanhol e um chileno a ouvir falar de como se podia desestabilizar uma cidade (ou mais) usando coisas simples como um telefone (ainda não havia telemóveis, nem computadores acessíveis, nem redes sociais...).

“Contra-informação” consistia, diziam eles, em criar e espalhar boatos, informações falsas, causar medo nas populações, desestabilizar as “forças da ordem”, divulgar falsas ordens e contra-ordens, enfim, tentar causar o caos que fizesse com que as populações se rebelassem contra o poder estabelecido.

Objectivo principal: confundir as pessoas que deixariam de poder distinguir as informações “verdadeiras” imanadas pelas fontes habituais, das produzidas pela “contra-informação”.

Exemplo clássico de “contra-informação” a “Operação Fortitude” que, na II Guerra Mundial, impediu os alemães de saberem onde seria o desembarque das forças aliadas, no Dia D.

Idealmente “informar”, consequentemente, será transmitir um conhecimento validado, uma referência, o resultado de uma pesquisa, de uma investigação, revelação, citar uma fonte fiável, indicação, aclaramento, notícia verdadeira. Divulgar conhecimento que seja útil, que acrescente valor. “Informação” deverá ser, portanto, o resultado de um processo de pesquisa e organização de dados que consubstancie uma mudança quantitativa ou qualitativa no conhecimento já existente sobre determinado assunto ou situação.

“Informação” é uma palavra polissémica intrinsecamente ligada a conhecimento e comunicação.

Inclusivamente, desde 1948, depois da publicação do trabalho de Claude Shannon, “A Mathematical Theory of Communication”, é possível medir a entropia da informação estabelecendo as bases científicas para a Teoria da Comunicação, embora o autor considerasse que os aspectos semânticos da comunicação não são os mais relevantes para o modelo matemático.

Hoje é comum referir-se que estamos na “Era da Informação”, advento da “Era do Conhecimento” ou sociedade do conhecimento.

Dito isto, “desinformação”, como diria a conhecida “socialite” Lili Caneças, é “o contrário de informação”.

É o acto ou processo de desinformar, alterar ou suprimir informação, induzir em erro utilizando técnicas de comunicação, ocultar informações ou alterar o seu sentido, filtrar informações, criar resultados pouco sérios de “sondagens”, estudos supostamente científicos, teorias da conspiração, utilizar reproduzindo-as ao infinito, notícias falsas, as tão conhecidas “fake news”.

Quem quiser ser sério, antes de propalar uma qualquer “notícia” ou “informação”, deve procurar saber qual a fonte (ou fontes) e aferir da sua validade, actualidade, consistência e seriedade.