Tecnologia permite "aumentar eficiência e reduzir custos"
A tecnologia 5G vai permitir "aumentar eficiência e reduzir custos" e possibilitar às empresas a venda de novos serviços, destaca em entrevista à Lusa o professor do Instituto Superior Técnico na área das telecomunicações Luís Correia.
"O 5G vem trazer, ao contrário das gerações anteriores, uma possibilidade muito grande de as empresas, as indústrias, tudo o que tem um setor económico e empresarial, poderem definir, usar, vender novos serviços muito para além daquilo que fazem hoje em dia", diz o também investigador do INESC-ID (Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Investigação e Desenvolvimento).
A utilização da nova tecnologia, salienta, "permite também aumentar a eficiência e reduzir custos em muitas áreas, desde a produção à área dos edifícios inteligentes", constituindo "um enorme contributo para a economia".
"Ou seja, as empresas podem aumentar o número de serviços que prestam (...) e podem reduzir custos. Isso é o ideal para qualquer gestor", refere Luís Correia.
Questionado sobre se a aplicação da tecnologia será imediata na economia portuguesa, o investigador considera que irá levar ainda algum tempo: "Acho que é um trabalho que vai demorar tempo a ser implementado em Portugal, mas não só em Portugal, no mundo em geral".
Primeiro, "porque normalmente os operadores de telecomunicações até agora têm estado muito focados a vender serviços e a vender telemóveis ao consumidor final (...) e, portanto, não têm grande experiência de vender serviços que não seja o serviço do telemóvel de comunicação a empresas", aponta.
Por outro lado, porque "as empresas também não têm grande experiência e grande - quase me arrisco a dizer - capacidade de prever, neste momento pelo menos, que novos serviços e novos produtos podem vir a oferecer (...) porque não há experiência disso".
Conjugados estes dois aspetos, o investigador considera "que não se pode esperar que o avanço do 5G a nível empresarial seja tão rápido como foi a nível do consumidor final", até porque "o processo de decisão" para a compra de um telemóvel por parte de um consumidor é "totalmente diferente" do de uma empresa.
"Vou comprar um telemóvel, é uma compra de impulso. Uma empresa não funciona assim", "não vai investir de impulso porque, para fazer qualquer coisa, tem de estar dentro do plano de investimento, tem que ser analisado", explica Luís Correia.
"Não vai gastar 100 ou 500 euros, vai gastar muitos milhares de euros e, portanto, os processos de decisão são mais lentos", frisa, antecipando que "a penetração dos serviços 5G na área empresarial" seja "seguramente mais lenta do que no consumidor final".
Relativamente aos setores que podem beneficiar do 5G, Luís Correia aponta o setor industrial, bem como o da saúde ou o automóvel.
No setor industrial, e porque o 5G tem entre as suas características "o aumento da capacidade de ligar dispositivos à rede", a sua aplicação vai permitir "tirar partido dessa informação, usar aquilo a que se chama o 'big data', e também a inteligência artificial", entre outras potencialidades.
O investigador aponta, como exemplo, que esta capacidade do 5G "vai permitir que ande com um casaco em que os botões sejam pequenas antenas, que os óculos sejam uma antena", uma vez que "as redes de 5G já vão comportar milhares ou milhões de pequenos dispositivos".
A nível industrial, "é seguramente uma das áreas onde o 5G pode vir a fazer uma grande diferença", considera.
Instado a comentar o desafio do 5G para o tecido empresarial português, que é composto, na sua maioria, por pequenas e médias empresas (PME), Luís Correia considera que "não há alternativa".
Por um lado, os investimentos vão ser "grandes porque ninguém vai comprar um sensor - sensorizar uma fábrica requer investimentos grandes-", mas, por outro, "a tecnologia em si não vai ser muito cara".
O problema "é que os sensores não poderão ser todos iguais porque depende do tipo de atividade industrial que existe", refere.
"Se eu quiser colocar sensores para determinar a temperatura, os sensores e o enquadramento que têm que ter na fábrica não vão ser os mesmos que eu vou colocar para determinar o caudal de um fluxo qualquer", exemplificou.
"E claro que os níveis de produção, as escalas de produção são muito mais baixas do que os telemóveis", disse.
Para o investigador, há por outro lado "várias aplicações que vão ser paradigmáticas" com a nova tecnologia que atualmente não são possíveis com 4G.
"No caso do consumidor final, as aplicações têm a ver com a realidade aumentada e virtual, que vão ser seguramente um sucesso com o 5G", mas a sua concretização depende da evolução tecnológica por exemplo dos protótipos de óculos desenvolvidos por empresas como a Google, a Microsoft ou a Apple.
"Há estudos e há protótipos em que isso pode ser feito em óculos como estes [apontando para os óculos normais de ler]. Se eu conseguir meter aqui, nestas lentes, aquilo que hoje em dia vemos numa coisa muito grande e fechada com o telemóvel à nossa frente, isto vai abrir um mundo inacreditável", explica.
"Imagine estar a ver um jogo de futebol e carrega aqui [na lente] e em cima de cada jogador aparece-lhe o nome e quantos golos ele já marcou, por exemplo, ou é turista", vai visitar uma cidade e, ao olhar para um determinado ponto, "aparece o nome, a história do edifício".
Tudo isto "são coisas que hoje em dia estão muito em protótipo, mas que o 5G vai permitir", tal como se fosse no telemóvel.
Além das aplicações da tecnologia na indústria, Luís Correia aponta também a cirurgia remota, em que um cirurgião realiza uma operação à distância, o que só é possível com o 5G devido à sua baixa latência (o tempo entre a ordem e a ação).
Outra das aplicações são os veículos autónomos (sem condutor), que " vão necessitar de ter uma grande interação com o meio ambiente por motivos de segurança de navegação", que o 5G vai proporciona.