Ciências sociais não podem ficar à margem da digitalização
O secretário de Estado para a Transição Digital defendeu ontem que é um "erro" pensar que as ciências sociais podem ficar "à margem" da transição digital, já que estas podem "beneficiar imenso" da incorporação de tecnologia.
Num 'webinar' sobre as qualificações digitais dos cidadãos europeus, André de Aragão Azevedo começou por dizer que a "ideia de que existe o digital e depois as outras áreas não faz sentido", pois existe "uma convicção de que todos os negócios têm hoje uma forte componente de digitalização".
Respondendo a uma questão sobre o contributo das ciências sociais nesse processo, o secretário de Estado realçou que "é um erro" pensar que "estão à margem" da transição digital, o que "resulta, muitas vezes, de uma quase autoexclusão, dizendo que não se reveem e não se identificam tanto".
Com isso, não percebem que estão "a perder uma grande oportunidade, porque os próprios processos ou as próprias metodologias das ciências sociais podem beneficiar imenso da incorporação de tecnologia, seja em estudos de mercado ou no tratamento de grandes volumes de informação", apontou.
Nesse sentido, destacou a importância da "diversidade de currículos e de 'backgrounds' de muitas dessas pessoas", que "enriquecem imenso as organizações".
A economista Susana Peralta, também presente na discussão, sublinhou o papel "absolutamente fundamental" das ciências sociais em questões como a "proteção da privacidade" e a "proteção do direito a desligar", nas quais "há um enorme desafio do ponto de vista legislativo e ético a ter em conta".
Susana Peralta apelou também ao facto de a transição digital poder "deixar de fora uma parte das pessoas com falta de competências para acompanharem a digitalização".
"Nós sabemos que, independentemente de toda a boa vontade que possamos ter enquanto sociedade e enquanto governo para capacitar e formar as pessoas, há uma ameaça que tem sido colocada em cima da mesa por alguns investigadores de que haja uma perda massiva de emprego e temos de trabalhar com esse cenário em cima da mesa", ressalvou a professora da Nova SBE.
A sociologia, a ciência política e a economia assumem aí "um contributo importantíssimo do ponto de vista das políticas públicas e de termos uma democracia inclusiva", afirmou.
A economista realçou também a importância da psicologia quanto à "relação do homem com a máquina", dado que esta pode levar à "exclusão do mercado de trabalho" e assumirá, "certamente, uma dimensão de saúde mental".
Helena Martins, da Google, apontou a falta da existência de diálogo entre a ciência, tecnologia, engenharia e matemática e as ciências sociais, o que se traduz "num 'gap' [lacuna] entre uma inovação tecnológica e uma política pública que enderece os efeitos dessa inovação, seja positiva ou negativamente".
André de Aragão Azevedo, Susana Peralta e Helena Martins participaram hoje num 'webinar' intitulado "Europa Digital: A Qualificação dos Cidadãos Europeus no Século XXI", organizado pelo Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP) do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), no âmbito da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia (UE).