Nem heróis nem vilões
O voto de pesar na Assembleia da República pela morte do Tenente Coronel Marcelino da Mata (TcMM) levantou celeuma com a esquerda a insurgir-se contra esse mesmo voto. A afirmação do deputado Ascenso Simões “A nossa História precisa de ser descolonizada, é insuportável uma história falsa” tem tanto de simplista como de facciosismo ideológico. A guerra colonial faz parte da nossa história que só seria falsa se a omitisse ou deturpasse. Do TcMM sei que foi oficial superior dos Comandos Africanos (CA) cuja ação operacional foi deveras relevante durante a guerra contra o PAIGC na Guiné, executando operações que permitiram salvar vidas de muitos dos nossos militares. Em Fev./Mar. de 1974 encontrava-me destacado na Guiné no aquartelamento de Canquelifá, onde fomos sujeitos pela artilharia do PAIGC a intensos bombardeamentos que provocaram estragos materiais e alguns mortos e que se prolongaram por várias semanas sem que conseguíssemos sequer determinar de onde provinham esses bombardeamentos para poder ripostar com um mínimo de eficácia com as nossas obsoletas peças de artilharia de 14 da 2ª guerra mundial. Estávamos sitiados e impotentes perante o poderio militar do inimigo e à sua mercê, quando fomos surpreendidos pela chegada de um batalhão de CA sob o comando do Major Folque e do Capitão Matos Gomes. Foram eles que desencadearam a operação militar que levou à neutralização das forças militares do PAIGC que nos atacavam, tendo sido apreendido diverso armamento nomeadamente os morteiros 120 soviéticos com que nos estavam a flagelar e que antecedia muito provavelmente um ataque maciço contra o nosso aquartelamento, pois viemos depois a saber que estávamos praticamente cercados pelas forças do PAIGC. Tenho para mim que esta operação levada a cabo pelos CA muito provavelmente me salvou a vida e a de muitos outros camaradas. Esta é a minha singela homenagem aos CA, nem heróis nem vilões apenas soldados no cumprimento do dever pátrio.
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