Multidão assiste a funeral de jovem baleada pela polícia em Myanmar
Uma multidão assistiu hoje na capital de Myanmar (antiga Birmânia) ao funeral da jovem baleada na cabeça pela polícia durante um protesto contra a tomada do poder pelos militares.
Mya Thwet Thwet Khine foi baleada na cabeça pela polícia no dia 09 de fevereiro, dois dias antes do seu 20.º aniversário, num protesto na capital, Naypyidaw, e morreu na sexta-feira. Os populares que participaram nesta cerimónia fúnebre acompanharam a entrada no cemitério do carro funerário, que transportou o corpo para um crematório, onde mais pessoas o aguardavam.
Levantaram silenciosamente as mãos em saudações de três dedos - um sinal de desafio e resistência adotado pela vizinha Tailândia -- à passagem lenta do veículo preto e dourado. Dentro do salão do crematório, a tampa do caixão de Mya Thwet Thwet Khine foi parcialmente removida para permitir um último vislumbre da sua cabeça apoiada numa cama de rosas vermelhas e brancas.
Membros da multidão do exterior cantaram "A nossa revolta tem de ser bem-sucedida!". Os manifestantes noutros locais de Myanmar reuniram-se hoje novamente para novas manifestações de rua, que já decorrem há mais de duas semanas. Em Rangum, a maior cidade de Myanmar, cerca de 1.000 manifestantes começaram o dia homenageando Mya Thwet Thwet Khine numa cerimónia.
"Quero dizer, através dos meios de comunicação, ao ditador e aos seus associados, que somos manifestantes pacíficos", disse o manifestante Min Htet Naing, acrescentando: "Parem o genocídio! Parem de utilizar armas letais!". Registaram-se igualmente protestos em Myawaddy, na fronteira com a Tailândia, e em Inle Lake, uma popular atração turística, onde dezenas dos seus famosos barcos de madeira de cauda comprida foram atracados perto da costa, nos quais várias pessoas a bordo cantavam slogans anti-golpe.
Manifestantes apareceram em força em Mandalay, a segunda maior cidade do país, onde as forças de segurança mataram a tiro duas pessoas no sábado perto de um estaleiro onde as autoridades tinham tentado forçar os trabalhadores a carregar um barco. Os trabalhadores, ferroviários e camionistas e muitos funcionários públicos, juntaram-se a uma campanha de desobediência civil contra a junta.
O tiroteio deflagrou no sábado depois de os residentes do bairro terem corrido para a doca de Yadanabon para tentarem ajudar os trabalhadores na sua resistência. Uma das vítimas, descrita como um adolescente, foi baleada na cabeça e morreu imediatamente, enquanto outra foi baleada no peito e morreu a caminho do hospital.
Foram também relatados vários outros ferimentos graves. Relatos de testemunhas e fotografias de cápsulas de balas indicaram que as forças de segurança utilizaram munições reais, além de equipamento convencional de controlo de motins e de fisgas, uma arma de caça tradicional em Mianmar. As novas mortes atraíram uma reação rápida e forte por parte da comunidade internacional.
O golpe militar, no dia 01 de fevereiro, atingiu a frágil democracia da Birmânia, depois da vitória do partido de Aung Sang Suu Kyi nas eleições de novembro de 2020. Os militares tomaram o poder alegando irregularidades durante o processo eleitoral do ano passado, apesar de as autoridades eleitorais terem negado a existência de fraudes. Desde então, milhares de pessoas têm-se manifestado contra o golpe militar, sobretudo na capital económica, Rangum, e em Mandalay.