Alegadas irregularidades com vacinas motivam processos judiciais na Argentina
Há denúncias na imprensa de casos de 'vacinação VIP' a políticos, empresários, sindicalistas e jornalistas
Várias denúncias judiciais foram apresentadas nas últimas horas na Argentina a exigir a investigação do acesso privilegiado à vacinação contra a covid-19 em instalações do Ministério da Saúde.
Uma delas foi apresentada pelo advogado Jorge Monastersky, confirmou à agência Efe o jurista, que solicitou à Justiça uma investigação por alegado abuso de autoridade a Ginés González García, até sexta-feira ministro da Saúde argentino.
O escândalo da "vacinação VIP" começou na sexta-feira, depois de o jornalista e membro do organismo Centro de Estudos Legais e Sociais, Horacio Verbitsky, de 79 anos, ter afirmado num programa de rádio que fora vacinado na sede do Ministério da Saúde depois de falar com o seu "amigo" González García.
Na Argentina, a campanha de vacinação contra a covid-19 começou no final de dezembro de 2020 com a vacinação dos profissionais de saúde, tendo na última semana na maioria dos distritos do país começado a ser inoculadas as pessoas com mais de 70 anos e na capital os idosos com mais de 80 anos.
Para aceder à vacinação, que é voluntária de gratuita, os interessados devem fazer a inscrição online, ficando depois a aguardar a disponibilidade de vacinas.
Depois das declarações de Verbitsky, a imprensa local relatou outros supostos casos de "vacinação VIP" a políticos, empresários, sindicalistas e jornalistas.
Na sua denuncia, Monastersky assinala que González García "ordenou e autorizou a vacinação de um grupo de pessoas com a vacina Sputnik na sede do Ministério da Saúde que dirigia, alterando as prioridades que as normas específicas indicam".
Acrescenta ter ficado "claro" o desrespeito pelo princípio constitucional de igualdade entre os cidadãos.
O presidente argentino, Alberto Fernández, pediu a renúncia de González García, que alegou haver um mal-entendido, após o que este sábado o chefe de Estado nomeou a secretária de Acesso à Saúde, Carla Vizzotti, para ocupar o cargo.
A Fundação Pela Paz e Alteração Climática da Argentina também avançou com uma queixa para que se investigue o caso, confirmou à Efe o responsável daquela organização, o jornalista Fernando Miguez.
A denúncia visa não apenas o ministro demitido como também outros membros da pasta da saúde, como Vizzotti, e aqueles que supostamente receberam a vacina de forma privilegiada.
"É inaudito que haja alguém, neste caso na cúpula do Ministério da Saúde, que decida quem deve morrer e quem deve viver. Com 50 mil mortes contabilizadas no país este é um caso claro de corrupção", asseverou Miguez à Efe.
Também o promotor federal Guillermo Marijuán pediu à Câmara Federal que investigasse González García, Verbitsky e outras partes potencialmente envolvidas.