Mais deveres, menos direitos
Num grupo de Telegram em Inglês sobre caminhar na Madeira, pode ver-se: uma turista a dizer que desconhece as regras em vigor, mas que tem amigos (turistas) que andam todos os dias a pé das 20 às 23 (porque ‘é a rotina deles’) e que só foram abordados uma vez por um polícia (que a senhora considerou ‘não muito simpático’); um português que disse que viu pelo menos 11 alemães numa levada que estava fechada, dizendo que eles devem ter saltado as barreiras em sítio (subentendesse que ele próprio o fez também); uma turista a dizer que ‘os trilhos estão todos “oficialmente fechados”’, acompanhando a mensagem de um emoji a rir (isto em resposta a uma pergunta se uma levada específica estava aberta).
No Funchal pode ver-se: turistas a passearem sem máscara; a não respeitarem o distanciamento social; a entrarem em espaços fechados e a só porem a máscara depois de entrarem. Também há madeirenses assim? Sim, mas em muito menor número.
Pergunto: eu estou num território europeu do Século XXI ou estou num território colonial do Século XX, onde eu como nativo tenho mais deveres e menos direitos que os meus mestres coloniais? Porque é que tanto população como governo continuam a vergar-se perante os turistas e a deixá-los quebrar as regras, tanto que até já gozam de nós, se não por palavras, por atos?
Na Escócia, por exemplo, qualquer chegada ao país (cidadão ou não) terá de ficar isolada num hotel por 10 dias, a custo próprio, e fazer dois testes à COVID. Na Madeira, é um teste (a custo 0), 12h no máximo de isolamento, e depois pode andar na rua. Máscaras e recolher obrigatório? Não se incomode, o turista não conta.
Esta situação vem confirmar algo que já se arrasta há muito. O madeirense não tem bom receber, tem subserviência. Pergunto a todos nós se as possíveis consequências do não cumprimento das regras dos novos senhores coloniais valem a pena. A nossa economia pode ser baseada no turismo, mas não pode ser baseada num neofeudalismo turístico.
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