Quercus acusa Governo de querer "atirar areia aos olhos dos madeirenses"
Associação ambientalista reage às "acusações de fake news, no âmbito da polémica sobre a pavimentação do caminho das Ginjas" por parte da secretária do Ambiente
Uma nota da QUERCUS-Madeira, assinada pela sua presidente Elsa Araújo, reage "às notícias vindas a público acerca das fake news (notícias falsas) veiculadas pelas ONGA's (Organizações Não Governamentais de Ambiente), no âmbito da polémica sobre a pavimentação do caminho das Ginjas", no qual lamenta que o Governo esteja a querer "atirar areia aos olhos dos madeirenses" ao alegar "falsos argumentos de valor económico, social e ambiental" para a obra.
A subscritora da resposta contextualiza a posição, salientando a sua experiência pessoal. "Desde muito jovem sempre me interessei por tudo aquilo que tinha a ver com a Natureza, sobretudo pela botânica. Na década de 90 fiz a licenciatura em Biologia, tendo estagiado na Madeira, no Parque Natural da Madeira. Nessa mesma década tornei-me sócia do Núcleo Regional da Quercus Madeira, do qual ainda faço parte", frisa.
Continuando, refere: "Quando estagiei, o Parque Natural da Madeira já se encontrava a fazer um levantamento à floresta Laurissilva da Madeira, juntamente com outras entidades governamentais e do qual resultou a publicação 'Laurissilva da Madeira Caracterização Quantitativa e Qualitativa'. Na altura fui integrada naquele grupo de técnicos que se encontrava a fazer o trabalho de campo e graças a este estágio fiquei a conhecer um património natural que desconhecia e que a partir daí passei a valorizar e a divulgar não só enquanto membro da Quercus, mas também enquanto professora."
Desse modo, assume, "fiquei indignada, mas não surpreendida, com as declarações vindas a público, nos últimos dias, por governantes que são pagos pelo erário público para proteger aquilo que de mais precioso a Região Autónoma da Madeira tem, o seu património natural. Que fique claro para quem proferiu tais afirmações, pondo em causa a idoneidade das organizações ambientalistas, que da nossa parte, temos conhecimento, no terreno, do valor daquela mancha de Laurissilva situada entre o Sítio da Ginjas e os Estanquinhos. Temos conhecimento, igualmente, que aquela clareira que se abriu na Laurissilva, no início da década de oitenta, resultou de puro aventureirismo e sem qualquer planeamento, o que explica o esquecimento a que aquele caminho esteve votado", garante, em resposta à secretaria regional do Ambiente, Recursos Naturais e Alterações Climáticas, Susana Prada.
Perante estes argumentos, Elsa Araújo diz que "querer beneficiar o caminho das Ginjas alegando falsos argumentos de valor económico, social e ambiental é pretender atirar areia aos olhos dos madeirenses". E assegura: "Da nossa parte, contem com todo o nosso empenho no sentido de mostrar à região, ao país e ao Mundo que aquela pretensa obra é um atentado à conservação da Natureza. E que uma área classificada como Reserva Biogenética, fazendo parte da Rede Europeia de Reservas Biogenéticas do Conselho da Europa e Reserva da Biosfera da UNESCO não ficará à mercê da incapacidade de gestão e conservação por parte de quem tem a obrigação de a proteger. As ONGAS's são formadas por voluntários capazes cujo único objetivo é Defender o Bem Comum. Contem connosco!"
Em nota à parte, a Quercus faz saber que a "área sujeita a desmatação - 46.250 m2 (ver Estudo de Impacte Ambiental, página 388 do PDF), 'Anexo II - Lista dos trabalhos de Construção, bem como as suas quantidades e orçamento')", referindo ainda que a "estimativa do excesso de materiais produzidos pelas escavações – 40.000 m3 (ver documento 'Aditamento', resposta da empresa responsável pela elaboração do EIA à 1ª questão colocada pela Comissão de Avaliação de Impacte Ambiental)", ambos os documentos encontrados neste link.
E ainda atira uma farpa. "Se a realidade alternativa do Presidente do IFCN sobre o projeto do Caminho das Ginjas fosse analisada num programa de televisão, certamente o Sr. Eng.º provaria o sabor da pimenta!", atira a Manuel Filipe.