Idosos confiantes na vacina
As reacções até agora têm sido as esperadas, disse a coordenadora do Centro de Vacinação do Funchal
“Tem de ser, tem de ser. O que é que eu vou fazer?”, respondeu esta manhã Eduardo Silva à pergunta se tinha ficado feliz com a oportunidade de ser vacinado contra a covid-19. O idoso de 84 anos, de São Gonçalo, acabava de chegar com a filha ao centro de vacinação. Nunca faz a vacina da gripe. Esta foi diferente. “Toda a gente vai para esse lado, diz que sim”, justificou. E ele seguiu-lhes os passos.
Confessa que não tem medo da morte e que a vacina nunca esteve nas suas preocupações. “Se morrer, morri. Vou morrer um dia, também já tenho 84, já tenho idade para dar uma voltinha”.
Eduardo Silva teve um enfarte há cerca de 20 anos, mas entretanto as coisas melhoraram e nunca mais se queixou, considera-se um homem saudável. Hoje reformado, ainda tem autonomia para fazer a sua vida, conduz e vai às compras.
Já num processo mais avançado, e no interior, a conterrânea Guilhermina Jardim contou-nos: “Correu bem”. Há muito tempo que estava à espera da possibilidade de se vacinar contra a nova doença. Esta idosa não tem medo de agulhas nem de reacções. “Paciência. Procura-se ajuda”. “Isto é um instante, não custa nada e é bom para a gente porque protege”.
Guilhermina, ao contrário de Eduardo, já pouco sai de casa, precisa sempre de ser acompanhada. Numa ocasião deu uma queda e a vida mudou. “Com a minha idade não dá, eu posso cair como eu já caí e fui para o hospital”, contou, com lágrimas a subirem aos olhos.
Mesmo em casa, já nada é como era. As flores sentem falta da sua atenção. “Agora andam meias coisa, porque eu também já não posso. Já não posso”. Mas ainda dá a sua volta pelo quintal, estende a roupa e recolhe quando está seca ou a chuva chega.
Nos 30 minutos de pausa antes de poder regressar a casa com a filha, fez saber que vem uma segunda dose a caminho. “Mas agora não”, disse, revelando que está esclarecida.
Quem também sabe que esta é uma primeira fase de duas é João Martins, de 82 anos, umas cadeiras afastado, já no espaço reservado aos utentes de São Martinho. Mas este idoso sabe mais, sabe que a próxima dose será no dia 13 de Março. "Desde que não haja dores”, ser vacinado “é bom”, disse a sorrir. “Penso que isto é para a gente melhorar”.
Para este idoso foi mais fácil do que eu esperava. “Há muita gente que com uma picadinha já faz um bicho se sete cabeças. Eu não senti nada, graças a Deus”.
Viúvo há mais de 30 anos, veio só e de autocarro para um sítio que não conhece. Falhou a paragem e teve de andar a pé cerca de dois quilómetros para finalmente chegar atrasado, ao destino. Felizmente não foi tarde de mais, a vacina ainda estava à sua espera. “Eu disse lá em baixo na Avenida ao motorista que era para me deixar no Tecnopólo, que eu nunca tinha passado aqui na realidade. E depois ele esqueceu-se, deixou-me lá para cima. Eu andei seguramente dois quilómetros a pé até aqui. Mas, é claro, eu não posso apertar muito por causa dos joelhos.”
À pergunta sobre quem devia ficar à frente dos idosos na vacinação, preferiu não dar a sua opinião. “Sobre isso a gente não pode falar porque ainda podemos ser castigados”.
Antes de serem encaminhados para a vacina um enfermeiro descortina junto do idoso e do seu acompanhante, caso seja necessário, se não há contra-indicações. Depois há um registo no sistema. “O enfermeiro que faz a admissão sabe qual o enfermeiro que vai dar a vacina ao utente, qual a vacina, qual o lote e o prazo de validade”, explicou Ana Gouveia, a coordenadora do Centro de Vacinação do Funchal, criado no Tecnopólo. Informação importante no caso de haver reacções adversas.
As reacções adversas identificadas ao longo de todo o processo de vacinação contra a covid-19 são monitorizadas. Chegam à coordenação através dos centros de saúde ou da saúde ocupacional no caso dos profissionais. O Infarmed é notificado e há um registo também na ficha do utente por causa da segunda dose, para alertar. A de gestão desta informação foi entregue a uma comissão regional para a notificação de reacções adversas.
Até agora as reacções são as esperadas, as descritas no resumo de características do medicamento. E no caso de acontecerem, a equipa acompanha a evolução do caso, sublinhou Ana Gouveia.
A enfermeira não tem presente a percentagem de pessoas que teve reacções à vacina da covid-19. Sabe que nos profissionais de saúde houve mais pessoas a reagir à segunda dose, o que é normal. “Tivemos pessoas que reagiram à primeira e não reagiram à segunda e tivemos pessoas que não reagiram a nenhuma e estão muito bem”.
No Tecnopólo tudo está pensado. O espaço de preparação da vacina é isolado, há depois a distribuição e vacinação. Mas para chegar a esta fase, há todo um trabalho anterior de logística, lembrou Ana Gouveia. Os serviços de instalações e equipamentos, os serviços farmacêuticos, os de informática, o aprovisionamento e a própria administração são envolvidos na montagem para que hoje entre 45 a 50 pessoas concretizassem a operação no local.
Dada a importância desta vacinação, a fragilidade da vacina e a dificuldade nesta fase em obter doses, há um cuidado claro para que nada falhe. “Quando nós saímos daqui não está o trabalho todo acabado, ainda temos um outro trabalho de campo para fazer, quer no antes, quer no pós”.