Euforias
Boa noite!
Há uma certa euforia global com a chegada à Terra das primeiras imagens a cores de Marte.
É certo que a missão do ‘Perseverança’ é por agora um caso de sucesso, num projecto que visa a análise da superfície do planeta e a recolha de amostras. Só que este momento definido pela NASA como "histórico" e que coloca um representante robotizado da Terra numa zona que nunca foi vista não deixa de ser irónico.
Porque ocorre num contexto em que a mesma humanidade estudiosa, criativa e sem limites se revela incapaz, há mais de um ano, de controlar um vírus que mata sem escrúpulos. Porque ocorre enquanto nos hospitais sem mãos a medir há um outro filme a rodar, a preto e branco, sem palmas nem tweets.
Porque ocorre durante um combate sem tréguas que, em muitos casos, configura mais um episódio saído do domínio da ficção científica do que da realidade experimentada, tal a complexidade e variantes da doença, a imprevisibilidade das reacções e o terror instalado.
Porque ocorre enquanto a humanidade espera por vacinas que demoram em demasia, motivando também alguma publicidade enganosa, geradora de outras euforias. Não é sério anunciar 17.521 vacinados contra a Covid na Madeira quando na prática só há 5.259 duplamente inoculados. E isto nem é um pormenor. É a verdade.