Autoridades da Guiné-Conacri esperam conter surto de Ébola no país até final de Março
As autoridades da Guiné-Conacri, que confirmaram sete casos de Ébola, incluindo cinco mortes, na última semana, esperam conseguir conter o surto em março, aplicando a experiência adquirida na epidemia que atingiu a África Ocidental entre 2014 e 2016.
"Fixámos o dia 31 de março como prazo para assegurar que não se fale mais de casos de Ébola em Gouécké [cidade da região de N'Zérékoré, sul do país, onde o surto teve início]", afirmou o diretor da Agência Nacional de Segurança Sanitária (ANSS), Sakoba Keita, citado pela comunicação social local e pela agência noticiosa Efe.
Embora não haja registo de novos casos suspeitos ou confirmados, a ANSS apresenta um relatório diário sobre a evolução da doença, depois de várias pessoas que estiveram presentes no funeral de mulher, em 01 de fevereiro, terem apresentado sintomas de Ébola.
O diretor de comunicação da agência, Jean Traoré, considerou que "a situação está sob controlo, por enquanto" e que "foram tomadas medidas apropriadas para conter o surto o mais rapidamente possível".
"Desta vez temos um sistema de vigilância que detetou rapidamente os primeiros casos. Estão a ser monitorizados e estamos à espera do fim do período de incubação da doença [21 dias] para ver como evolui a situação no geral", explicou o responsável.
Numa entrevista telefónica à agência noticiosa espanhola, o especialista em febres hemorrágicas dos Médicos Sem Fronteiras Luis Encinas, alertou que a presença de casos pode representar "uma situação avançada".
"Não há que ser alarmista, mas devemos ter em mente que caso não se sigam todos os protocolos, a situação pode evoluir para uma situação descontrolada e depois outras ações devem ser postas em prática", disse.
À mesma fonte, o diretor regional da organização não-governamental (ONG) Care International, Balla Sidibé, elogiou "a proatividade da Guiné-Conacri em declarar os casos e assim facilitar uma resposta mais rápida que no passado".
A Guiné-Conacri declarou em 14 de fevereiro o primeiro surto de Ébola no país após cinco anos, que já resultou na morte de cinco pessoas.
O anterior surto, que surgiu em finais de 2013 na Guiné-Conacri, alastrou posteriormente aos vizinhos Libéria e Serra Leoa, tendo causado mais de 11.300 mortos, 2.500 dos quais na Guiné-Conacri.
A campanha de vacinação contra o vírus do Ébola começa na segunda-feira na Guiné-Conacri com 11 mil vacinas, anunciaram a Organização Mundial da Saúde (OMS) e as autoridades de saúde locais na quinta-feira.
A OMS enviou pelo menos 30 peritos de vacinação para aquele país da África Ocidental e outros 20 para a República Democrática do Congo (RDCongo), onde a campanha de vacinação foi oficialmente lançada em 15 de fevereiro, na sequência do surgimento do 12.º surto de Ébola no nordeste do país, em 07 de fevereiro.
Na RDCongo, as autoridades da União Africana contam quatro casos confirmados, duas mortes e 369 contactos identificados, 326 dos quais estão a ser monitorizados.
O vírus Ébola, que provoca febres altas, vómitos e diarreias, foi identificado pela primeira vez em 1976 na RDCongo e deve o seu nome a um rio no norte do país, perto do qual teve origem o primeiro surto.
O Ébola é transmitido entre humanos através de fluidos corporais como sangue ou fezes e tem uma taxa de letalidade muito elevada, que varia entre 50% e 90%, de acordo com a OMS.
Uma primeira vacina do Ébola, fabricada pelo grupo americano Merck Shape e Dohme, provou ser altamente protetora contra o vírus, num grande ensaio realizado na Guiné-Conacri em 2015.
Esta vacina, pré-qualificada em novembro de 2019 pela OMS para licenciamento, foi utilizada em mais de 300.000 doses numa campanha de vacinação orientada durante o último surto na RDCongo.
Uma segunda vacina experimental, dos laboratórios norte-americanos Johnson&Johnson, foi introduzida em outubro de 2019 como medida preventiva em áreas onde o vírus está ausente, e mais de 20.000 pessoas foram vacinadas.