Empresários queixam-se de aumento de impostos em mais de 350% na Venezuela
Empresários venezuelanos queixaram-se hoje que os impostos locais subiram mais de 350% em seis meses, uma situação que "asfixia" as empresas num país com uma crise que se agravou com a pandemia de covid-19.
"A situação está a ficar muito difícil, porque os impostos continuam a subir, a subir e a subir. Em seis meses aumentaram mais de 350%, apesar de estarmos em pandemia e muitas empresas estarem fechadas e os alguns comércios abrirem apenas algumas horas nos dias de flexibilização da quarentena", explicou um empresário da restauração à agência Lusa.
José Pereira queixou-se ainda que também os serviços básicos como a eletricidade e a limpeza urbana, apesar de serem "irregulares e de má qualidade" aumentaram "injustificadamente, nalguns casos até mais que os impostos" mesmo com a paralisação obrigatória em tempos de pandemia.
No mesmo sentido, o presidente da Federação de Câmaras de Comércio de Carabobo, Jonatan Aldana, denunciou aos jornalistas que os empresários estão "asfixiados" pelo aumento dos impostos e pela baixa atividade empresarial.
"Antes da chegada da pandemia de covid-19 à Venezuela (em março de 2020) as empresas privadas tentavam sobreviver sob uma economia praticamente falida (...). Depois de meses de luta para se manterem, os empresários devem agora enfrentar outro abuso, um aumento abrupto de impostos", disse.
No entanto Jonatan Aldana alerta que "nenhuma empresa privada (local) tem capacidade de pagar" os "mais de 350Euro de aumento dos impostos".
"Estão a aplicar taxas impositivas superiores à capacidade que têm as empresas para pagar e isso, constitucionalmente, não é possível", disse.
Por outro lado, precisou que muitas empresas tiveram que paralisar as suas atividades e que outras, para poderem continuar de portas abertas, tiveram "que mudar para o setor informal".
Os empresários queixam-se ainda de que a cobrança de impostos contradiz o anunciado pelo Governo do Presidente Nicolás Maduro de os "empresários seriam exonerados do pagamento de impostos devido à pandemia".
Além disso, a escassez local de combustível, as falhas no abastecimento de energia elétrica e a falta de serviços básicos "complicam ainda mais a situação" empresarial e industrial.
"O setor industrial tem sofrido muito. Manter os processos produtivos, que paralisam por falhas elétricas, obriga a procurar outras ferramentas, por exemplo, geradores elétricos", explicou.
Segundo Jonatan Aldana, os setores empresarial e industrial trabalham atualmente a 30% da sua capacidade.
Desde 13 de março de 2020 que a Venezuela está em estado de alerta, o que permite ao executivo tomar "decisões drásticas" de combate à pandemia.
Nos últimos meses a Venezuela tem aplicado um modelo próprio de quarentena, denominado 7+7 que consiste em sete dias de estrito confinamento seguido por sete dias de flexibilização.
Na Venezuela estão oficialmente confirmados 133.577 casos da covid-19, desde o início da pandemia em março de 2020. Há ainda 1.285 mortes associadas ao novo coronavírus e 125.565 pessoas recuperaram da doença.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.430.693 mortos no mundo, resultantes de mais de 109,8 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.