Não está tão reles…
E a indignação, se existe, é feita pela calada, em ambiente fechado, nos círculos de amigos
Hoje vivem-se momentos difíceis e nunca antes vividos pelas gerações actuais. Poucos serão os que tiveram de conviver com a peste espanhola. Mas muitos, não só da minha geração, viveram momentos difíceis, enfrentaram-nos e ultrapassaram-nos. Crises económicas e sociais foram sendo paulatinamente ultrapassadas com os parcos recursos existentes à época. O que tem de ser tem força de lei… Um fatalismo cultural que é componente da genética da portugalidade.
Um meu amigo e conterrâneo que subiu na vida a pulso, com muito trabalho e suor, tinha uma frase que traduz o sentir experienciado das situações mesmo difíceis:
- Isto não está tão reles… que não possa ficar pior!
Esta postura positiva perante a realidade revela uma dupla forma de enfrentar as situações problemáticas. Por um lado, há sempre a possibilidade de haver alguém que pode estar a atravessar momentos piores. Por outro, há sempre a hipótese de ultrapassar o problema e encontrar uma saída. Hoje, diríamos que há quem veja a garrafa meia vazia enquanto outros a vêm meia cheia.
Lembro-me do primeiro caso de COVID 19 na Madeira, trazido por uma turista holandesa. As vozes de indignação que se levantaram contra os turistas foram mais que muitas. Hoje, pede-se o regresso dos turistas. Hoje, os casos de transmissão local são mais que muitos, comparados com os casos provenientes de fora. E a indignação, se existe, é feita pela calada, em ambiente fechado, nos círculos de amigos.
Para combater a propagação da pandemia, foram tomadas as medidas que se julgaram necessárias e adequadas. Umas mais eficazes do que outras, que apenas serão avaliáveis após o decurso de algum tempo. Também aqui há uma aprendizagem a ser feita.
No entanto, independentemente de todas as medidas “aceitáveis” que sejam decididas, a sua eficiência apenas depende dos comportamentos individuais de cada uma das pessoas que compõem a nossa comunidade. E esses comportamentos individuais tanto podem ser por acção como por omissão. Isto é, tanto por vontade deliberada de não querer cumprir as recomendações das autoridades sanitárias de utilização da máscara, distanciamento social, recolher obrigatório, proibição de ajuntamentos, etc., como simplesmente se ter esquecido de cumprir essas obrigações.
Enfim, o cenário de hoje (à data que escrevo) é bem melhor do que o de há alguns dias atrás. E a evolução da pandemia na nossa terra só depende de nós, todos, individual e, sobretudo, solidariamente. E é precisamente por isso que devemos ponderar seriamente os nossos comportamentos para que se mude a sentença para:
- Isto não está tão reles, que não possa ficar melhor!
Apenas depende de todos e de cada um nós.