Madeira

Cristãos entram "em estágio” para a Páscoa, diz D. Nuno Brás

Homilia da missa de Quarta-feira de Cinzas reflecte sobre sociedade "egoísta", que "se esqueceu de Deus"

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"Como o atleta que diariamente treina e que, num determinado período do ano, 'entra em estágio', também nós começamos hoje este verdadeiro tempo de estágio, de retiro cristão que é a Quaresma. Que o Senhor nos ajude a não desistir a meio do caminho por causa do cansaço, de modo a chegarmos à sua Páscoa mais semelhantes a Ele — que o mesmo é dizer: mais humanos, mais cristãos, mais divinos, mais vivos".

É como esta alegoria ao desporto que o Bispo do Funchal D. Nuno Brás abre o tempo litúrgico da Quaresma - o período de preparação para a Páscoa Cristã, que começa hoje, Quarta-Feira de Cinzas, e termina pela tarde de Quinta-Feira Santa.

"Esta súplica que hoje se eleva da terra ao céu há-de guiar-nos ao longo do caminho destes 40 dias de penitência que agora iniciamos. Pecámos como indivíduos, como sociedade, como cristãos. Manchámos a veste branca que recebemos no nosso baptismo. Manchámos a túnica imaculada de Jesus Cristo".

A homilia da eucaristia celebrada, esta tarde, na Sé, fica também marcada por uma reflexão sobre a sociedade actual, que se encontra - nas palavras de D. Nuno Brás - "muito longe do Evangelho, dos seus valores e da sua vida". 

"Basta olhar um pouco mais atentamente. Com facilidade, descobrimos que, afinal, vivemos numa sociedade que promove o egoísmo. Vivemos numa sociedade onde muitos não têm o suficiente para viver. Vivemos numa sociedade onde muito facilmente a vida humana é espezinhada, desde o ventre materno ao seu fim natural. Vivemos numa sociedade que vive para ter e não para ser; uma sociedade em que o valor supremo é o consumo. Uma sociedade em que o importante é aquilo que aparece, o que se diz, o que se mostra. Uma sociedade que despreza o coração, que ignora a procura da Verdade. Vivemos numa sociedade onde a própria criação se encontra em risco. Vivemos numa sociedade sem horizontes, que se tornou deus para si mesma e onde o verdadeiro Deus tem muito pouco lugar. Vivemos numa sociedade que se esqueceu de Deus. Que o relega para os momentos de aflição ou para aqueles onde Ele fica socialmente bem".

Neste período de penitência, o Bispo apela, pois, aos fiéis que "caminhem" com Deus.

"Sabemos, por experiência, que nem tudo ficará resolvido ao chegarmos à Páscoa do Senhor. Mas sabemos, igualmente, que o caminho se faz caminhando, e que importa deixar que o Espírito do Senhor, vindo aos nossos corações, vá moldando o nosso existir e o torne mais semelhante a Jesus".
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