Um médico maior que o General
O Major-General Gabriel Arcanjo Branco de Olim, natural da vila de Machico, cedeu ao último combate da sua vida contra o Covid-19, no anoitecer da primeira quinzena de fevereiro de 2021, na cidade de Lisboa. Nasceu com a aurora solsticial da primavera do ano de 1947, no seio de uma das famílias mais influentes da vila de Machico, Maria Branco e Manuel Avelino Olim, cuja residência de infância permanece ainda destacada da malha urbana do centro da cidade, quintal de infância de outros vultos militares como o General António Teixeira de Aguiar e o General António Sebastião Spínola.
Licenciado pela Faculdade de Medicina de Lisboa em 1973, o General Gabriel Olim, ingressa nos quadros permanentes da Força Aérea em 1975, onde encontrou condições para a consolidação da sua formação de médico sobretudo em alguns países europeus e no EUA, onde, entre outras universidades foi graduado pela Foreign Officer School, Air University, tendo o seu prestígio académico levando-o a ser reconhecido como cidadão honorário da cidade de Montgomery do estado de Alabama, desde 1982.
Ao longo da sua vida foi um paladino conferencista internacional sobre estudos científicos ligados às hemoglobinopatias ou transfusões de sangue, tendo nesse sentido, percorrido alguns países da Europa, China e Macau, deixando os seus meticulosos contributos para a evolução do conhecimento científico sobre a hematologia clínica. Além de conferencista foi consultor da Organização Mundial de Saúde, em 1990, para a elaboração e redação das Normas de Autotransfusão para países em Vias de Desenvolvimento. Neste seu percurso de reconhecimento internacional, foi convidado a exercer o cargo de Diretor do Centro de Transformação de Sangue de Macau, desde 1988 a 1995, e representante de Portugal nos grupos de trabalho da OTAN, como ainda médico-chefe da Força das Nações Unidas no Sahara Ocidental (MINURSO), em 1999.
Em Portugal, para além de ter sido um medico exímio da sua especialidade, nomeadamente no Hospital de Santa Maria, foi presidente do Conselho Diretivo do Instituto do Sangue e membro da comissão de avaliação do medicamento do INFARMED, desde 1996. E, neste seu extenso currículo regista-se ainda o seu contributo na Comissão de Ética para a Saúde da Força Aérea; a sua invejável competência na direção do Hospital da Força Aérea, durante cinco anos; auditor de referência do Instituto de Altos Estudos da Força Aérea e um ativo colaborador da reforma da saúde militar.
Do seu bom gosto destaca-se o seu empenho contagiante pelo estudo das línguas e das culturas dos povos, tendo sido nesta vertente graduando em Língua e Cultura Chinesa (Mandarim), pelo Instituto de Línguas e Cultura Chinesa, Pequim, em 1993. Desta sua afeição, menciona-se o seu rigor na investigação história, manifestado principalmente no estudo acerca da emigração portuguesa para o Havai, publicado na Revista Islenha Nº 63, julho/dezembro de 2018, destacado também o quanto acompanhava, mesmo à distância, as atividades culturais da sua Terra Natal, tornar-se por isso um dos mais influentes membros da tertúlia de madeirenses em Lisboa.
Fica esta história de vida de um dos filhos mais ilustre de Machico, General Gabriel Olim, cujo lema do seu extraordinário percurso correspondeu no seu máximo expoente à divisa da sua Força Aérea: Ex Mero Motu “Para que outros vivam”.
Severino Olim