Opositores venezuelanos foram às ruas para exigir liberdade
Estudantes opositores venezuelanos concentraram-se, esta sexta-feira, em várias praças do país para "exigir liberdade" e melhores condições de vida na Venezuela, um país que, dizem, tem "uma ditadura cada vez mais parecida à cubana".
"Nos reunimos para exigir as condições que queremos, pelo futuro. Hoje, na Venezuela, é muito difícil ser jovem, pagar as universidades, estudar numa virtualidade [digitalmente], quando não temos condições, nas nossas casas, para continuar estudando", explicou uma manifestante.
Jenny Ferraza, estudante de sociologia na Universidade Católica Andrés Bello, falava à agência Lusa na Praça Bolívar de Chacao (leste de Caracas), onde precisou que "é difícil conseguir trabalho, fazer atividades" e ter a esperança de vir a ter, no futuro, o que outras gerações tiveram.
"Nos reunimos porque é importante deixar uma mensagem de que a juventude é o presente, mas também o futuro e que estamos aqui para exigir ao regime de Nicolás Maduro condições para continuar no país. As condições democráticas, sociais, os serviços públicos, a eletricidade e a água", disse.
Explicou que tomaram "a decisão de arriscar-nos por esses jovens que ficaram em casa, pela nossa família, por nós mesmos, e sair com a mensagem de que corremos um risco, mas que vale a pena tratando-se da liberdade do nosso país".
"A situação venezuelana é parecida à de Cuba. É uma ditadura igual à cubana porque estamos ficando bloqueados, sem serviços e não podemos ficar como eles, os cubanos que calam. Temos que deixar a mensagem sobre o que se vive no país, que não é o que o governo diz nas suas mensagens diárias nas televisões", afirmou.
Sublinhou ainda que "a pandemia da covid-19 aumentou a pobreza, a criminalidade, a falta de emprego e os serviços públicos pioraram completamente", na Venezuela.
Por outro lado, a advogada e coordenadora do partido Primeiro Justiça, para Caracas, Alícia Figueroa, explicou que manifestar-se é desafiar o regime que tenta impedir os protestos.
"É desafiar um regime que limita o protesto, que impede as pessoas de se queixarem pela falta de tudo, porque não tem acesso aos serviços públicos, não há água, gás e falha a luz porque o salário mínimo é de 2 dólares e o país está dolarizado [preços afixados em dólares], foi entregado aos iranianos, aos chineses", explicou.
Segundo Figueroa as prateleiras das mercearias estão repletas de produtos mas "90% da população não tem acesso", devido aos altos preços, "e os outros 10% têm acesso e podem comer" porque têm relações com o Governo.
"Temos o direito de continuar protestando. O pior que podemos fazer é ficar em casa e rendermos, mas não o faremos porque eles (do regime) não são maioria, apenas têm o poder, o dinheiro e as armas, mas os venezuelanos têm a vontade de libertar o país", frisou.
Esta advogada explicou ainda que os venezuelanos continuam "exigindo condições para votar em liberdade, a libertação dos presos políticos, que cessem as inabilitações [impedimentos legais para candidatar-se], que regressem os dirigentes políticos que estão asilados e que cesse a perseguição".
A advogada denunciou que um grupo dos militantes de Primeiro Justiça que regressavam a Caracas de uma ação de formação foram detidos pelas Forças de Ações Especiais (FAES), durante mais de oito horas.
"Tiraram-lhes o bilhete de identidade e ameaçaram que nos calabouços havia mais de 150 lugares. Lhes mandaram apagar e tiraram o telefone (...) Foram detidos durante poito horas apenas para mortificar [atormentar], amedrontar, demostrar que são fortes. Tiveram que soltá-los porque não estavam cometendo nenhum delito".
Por outro lado, o estudante de direito da Universidade Central da Venezuela, Hector Farra, explicou que o protesto coincidiu com as celebrações do Dia da Juventude e o 207.º aniversário da Batalha da Vitória, "um facto histórico da nossa história republicana contra o império espanhol (...) hoje, 207 anos depois estamos perante outra dominação ideológica, social, perante controles sociais, económicos".
"Inclusive que no dia de hoje é ilegal estar nesta praça, exercer o direito de protestar, é ilegal vestir a camisa de um partido político, de uma ONG, de um movimento estudantil. Estamos enfrentados a um regime quer manter enclaustrada a juventude, na sombra da pobreza, do desemprego, de viver com um salário de menos de 3 dólares [mensais]", disse.
Militante do partido Vontade Popular, fez "um chamado à comunidade internacional de que aqui, apesar de que somos uma juventude golpeada pelo desemprego, pela falta de oportunidades, pela fuga de 'cérebros' [profissionais,] ainda estamos aqui, batalhando, e apesar dos mortos, desaparecidos, das pessoas arbitrariamente detidas, continuamos aqui".
"Estamos arriscando tudo, porque a Venezuela, a nossa geração merece tudo", frisou.
Hector Farra explicou que visualiza "a Venezuela, com os nossos irmãos [emigrados] regressando à Venezuela", avançado no desenvolvimento, a ser uma porta ao emprego para os venezuelanos e latino-americanos e com uma classe política bem formada.