Crónicas

Escondidos atrás de um computador

Tenho um amigo que costuma dizer que não há pior do que um burro com ideias próprias. Mas as redes sociais, em tempos de pandemia, têm mostrado também o perigo que são pessoas frustradas, com muito tempo livre, desequilibradas, invejosas e ávidas por destruir seja o que for sem que a verdade ou os factos sejam relevantes ou determinantes. É por isso que cada vez mais o luxo e a qualidade de vida são inversamente proporcionais à exposição pública a que uma pessoa é sujeita. Umas vezes por opção, outras sem o escolher. Talvez por isso, alguns comecem a sentir um certo desconforto em partilhar opiniões e fujam “a sete pés” do diálogo com o receio de alimentar guerras e de submeterem o seu bom nome ou as suas qualidades ao julgamento anónimo, que não raras vezes resvala para um discurso de ódio, extremista e em tom ameaçador.

Esta condição natural do propósito de espaços de opinião abertos e da democratização da informação, abre caminho para que todos possam tomar a palavra e lhes dê o direito de tudo dizer, mesmo que isso afete a vida dos outros. Chamam-lhe democracia mas na realidade é o definhar do conceito num caminho anárquico, sem regras e sem lei que lhes valha. Sobra por isso arena para que os fanáticos e os entendidos de tudo e mais um par de botas afirmem, julguem e lancem provocações ou suspeitas com o objectivo claro de mostrar conhecimento das mais variadas matérias ou tão só para atingir alguém.

No caso dos primeiros, é vê-los, não a opinar mas sim a garantir conhecer isto e aquilo, fazendo uso de trechos de notícias ou fragmentos de frases descontextualizadas ditas por outros. Esses, que são detentores das verdades absolutas e se vão embebedando com meia dúzia de likes, ganham um espaço que lhes faltou na vida, seja por falta de oportunidades, de ambição ou mesmo de qualidade. Usam por isso o palco das redes para mostrar ao mundo que são talentos desperdiçados. Peritos no bota abaixo, fazem da sua bússola a critica a quem faz ou quer fazer. Sentados no sofá ou na poltrona copiam frases feitas e assumem-se como talentosos pensadores, a quem o erro ou a falha nunca assistiu. Donos do momento, aproveitam-se dessa informação globalizada para chamarem até si, estudos e matérias aprofundadas de que provavelmente pouco ou nada ouviram falar e alimentam-se de meia dúzia de pategos, que vão aplaudindo em tom falso ou bajulador.

Mas são os segundos os mais perigosos. Os que pouco se revelam e nada se colocam a jeito. Astutos e manhosos que adoram levantar falsas suspeitas, que deixam frases com segundos significados e pequenos apontamentos que semeiam a intriga e a desconfiança. Que atentam contra a reputação, destilam ódio e trespassam de forma leviana alguns inocentes que lhes passam à frente. Muitas das vezes nem se conhecem, nunca trocaram mais do que meia dúzia de palavras, ou nem uma. Mas carregam lá dentro a frustração e a inveja. Sorrateiros. Vão limpando o espaço como quem limpa provas do crime e com isso estragam carreiras, põem em causa intenções e deixam no ar a dúvida às vezes até em forma de piada, para terem sempre uma porta por onde escapar.

É preciso ter muito cuidado com aqueles que andam por aí apenas com o intuito de estragar o que os outros fazem. E estes tempos em particular são atreitos ao crescimento desta espécie de gente que tem demasiado tempo livre. Que têm vidas enfadonhas e pouco interessantes. Ninguém olha para onde nada se passa. Ninguém manda pedras a uma árvore sem frutos. Por isso é tão importante que quem constrói, quem luta para crescer e se desenvolver, quem faz pela vida ( e sabe que tem tanta estrada para andar que não há sequer tempo para se debruçar sobre o retrovisor ) se proteja. Porque quando caímos na boca de um destes vampiros só saímos de lá de duas formas. Ou mortos ou diferentes. E raramente é para melhor…

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