A sogra da prima do Almirante já emigrou
Conheço o Almirante Gouveia e Melo, o homem mais falado na última semana em Portugal, mas dos dois ou três dedos de conversa que trocámos creio que se lembra de meia falange. Desde que foi conhecida a sua nomeação para coordenador do Plano Nacional de Vacinação contra a Covid-19, tenho acompanhado vários artigos que sobre ele se escreveram e tenho a firme certeza de que há gente na Marinha, a julgar por aquilo que tem vindo nos jornais, que já encomendou a festa para quando o confinamento acabar. É que este oficial superior das Forças Armadas, que amigos comuns garantem que é da estratosfera, era a escolha temida por aqueles que nada fazem e por aqueles que não deixam fazer se o atual Chefe do Estado Maior da Armada saísse. Mesmo não se sabendo se Mendes Calado deixa o cargo, a verdade é que, pelo menos para já, Gouveia e Melo não entra. Diz-se que havia quem estivesse a meter os papéis para passar à reserva, nem que isso custasse promoções, mas nunca poderiam trabalhar para um homem que, mais do que mandar, sabe mandar. E sabe também salvar vidas, como aconteceu há vinte anos num momento em que a RTP estava a bordo, ou em tantos outros momentos da sua carreira.
Submarinista, habituado a privações e desafios, ao Almirante é pedido para matar as esperanças da prima e da sogra que querem ser vacinadas primeiro que todos os outros. No alto da sua cabeça, lá por uns expressivos 1,93 metros – até disso se falou esta semana – paira uma espada afiada e um país inteiro a questionar a razão de uma pessoa vinda das Forças Armadas comandar operações deste género. Daquelas que certamente muitos civis estavam a fazer fila para liderar. Não queria estar no lugar do homem a quem se pediu que ponha tudo nos eixos, mas acredito que a escolha do almirante acaba por dar razão a quem garante que isto só vai lá com a tropa. Pelo que sei, a sogra da prima de Gouveia e Melo já está bem longe e vai tentar a sua sorte noutro país, porque neste a seringa partiu.
Ao homem que garantem não ser deste planeta cai toda a responsabilidade de fazer esquecer a trapalhada que se viu, desde as pastelarias às francesinhas, às Misericórdias e às donas das empresas de limpeza. Não pode falhar um milímetro, mas sei pelo que dizem os mais próximos que não vai perdoar os erros, se os houver. Por outro lado, anteriores oficiais que o comandaram e que trabalharam com Gouveia e Melo, já fizeram vários avisos à navegação a propósito da conduta do homem que não tem meio termo. Amado por uns e odiado por outros, não fugiu com o rabo à seringa e é neste momento o homem a quem não vai ser perdoado um único erro. Como se diz lá nas andanças do mar, desejo-lhe mar chão e aragens, bem vai precisar.