Guardas da GNR e polícia andaram à briga nas ruas do Funchal… há 100 anos
No 'Canal Memória' de hoje recordamos um "conflito grave" entre guardas republicanos e um polícia que foi notícia em 10 de Fevereiro de 1921
As rivalidades entre as várias forças de segurança do país são proverbiais, tanto a nível nacional como na Madeira. A atestar isso estão episódios bem recentes, como a disputa entre elementos da PSP e da GNR pela escolta das vacinas no continente. Mas também histórias mais longínquas, como prova uma notícia da edição do DIÁRIO de há precisamente 100 anos, que relatava um “conflito grave” entre guardas da GNR e polícias civis (antecessores da actual PSP) nas ruas do Funchal e do qual resultaram ferimentos de certa gravidade.
A notícia, que surgia em destaque na primeira página de 10 de Fevereiro de 1921 e era essencialmente baseada em fontes da polícia civil, apresenta um quadro vívido dos acontecimentos ocorridos dois dias antes. O conflito começou por volta das 23h30 quando um polícia civil descia a Rua dos Tanoeiros e notou que dois guardas republicanos “estavam espancando um indivíduo”. Parou para presenciar o caso, dirigindo-se-lhe nessa ocasião um dos militares e perguntando-lhe o que fazia ali. O polícia identificou-se enquanto tal e explicou que se encontrava na área do seu distrito. De seguida, o outro guarda aproximou-se e disse-lhe «Aqui nem polícia nem o …….» e ao mesmo tempo o primeiro guarda “agrediu com uma bofetada, começando depois ambos a agarrar-se ao polícia, agredindo-o com o sabre”.
“Ao chegar à Ponte do Bettencourt [ponte do Bazar do Povo] o guarda republicano n.º 51 descarregou uma pranchada na cabeça do polícia, fazendo-lhe um grande ferimento" DIÁRIO de 10/02/1921
O polícia, vendo-se ferido, puxou também da sua espada para se defender, mas não conseguiu fazer uso da arma por estar a ser agarrado pelos oponentes. “Mais tarde, conseguindo desembaraçar-se dos guardas republicanos, apitou por socorro, sendo sempre perseguido pelos guardas”, descreve a pormenorizada reportagem, que se desenvolve: “Ao chegar à Ponte do Bettencourt [hoje conhecida por ponte do Bazar do Povo] o guarda republicano n.º 51 descarregou uma pranchada na cabeça do polícia, fazendo-lhe um grande ferimento. Nessa altura apareceram mais alguns guardas cívicos e diversos indivíduos da classe civil, que tentaram pôr termo ao conflito, mas não o conseguiram, visto os guardas republicanos continuarem de sabres desembainhados a agredir os polícias e os paisanos”.
Intervieram depois no conflito vários civis que conseguiram dominar o [guarda] 23, sovando-o valentemente e com tal gana que a policia dificilmente conseguiu tirá-lo das mãos dos populares enfurecidos DIÁRIO de 10/02/1921
A certa altura vários civis conseguiram dominar um dos elementos da GNR, “sovando-o valentemente e com tal gana que a policia dificilmente conseguiu tirá-lo das mãos dos populares enfurecidos”. Mais tarde, este guarda foi conduzido ao comissariado da polícia e depois ao posto médico municipal, onde recebeu tratamento, já que ficou em estado “bastante grave”. Já o outro guarda republicano, “que se pôs ao fresco quando viu o caso mal parado, apresenta[va] apenas uma equimose no pescoço”. O polícia civil “também recebeu curativo no posto médico” e recebeu baixa por 10 dias.
O caso foi alvo de averiguações no comissariado da polícia civil e foi enviada uma participação ao comando nacional da GNR.
Descarregue aqui a edição impressa do DIÁRIO de há 100 anos e recorde esta e outras notícias da altura.